Ter, 16 de Outubro 2018 - 16:15
'Para meu pai, educação não avançar já era retroceder', diz filho do criador do Dia do Professor
Por: Por Fernando Jacomini* e Samantha Silva, G1 Piracicaba e Região
Nascido em Piracicaba, há 71 anos Salomão Becker teve a ideia de celebrar a data em um encontro de professores; data se tornou feriado escolar em 1963.
A origem do Dia do Professor, segundo a Secretaria de Educação de São Paulo, começou no dia 15 de outubro de 1827 com o decreto do imperador do Brasil, Dom Pedro I, que criou o Ensino Elementar no Brasil. Mais de 100 anos depois, em 1947, Salomão Becker teve a ideia de transformar a data em Dia do Professor e comemorá-la nas unidades escolares. A celebração se espalhou por outras cidades do país, e em 1963, foi declarada oficialmente feriado escolar por um decreto federal.
Ao ter a ideia da data, segundo relata o texto da Educação, o professor citou a célebre frase de que ele sempre é lembrado: "professor é profissão. Educador é missão." O discurso do professor revela a importância que Salomão Becker dava à missão de ser educador. "Ele dizia que, em educação, não avançar já era retroceder", conta o filho, Sérgio Becker.
"Este homem era o meu pai e o Brasil que eu quero é um país que comece de verdade a levar as palavras dele a sério", completa. Ele conta que o pai declarava ainda que "o professor é a profissão que dá origem a todas a outras".
Vida no interior de São Paulo
Sérgio conta que Salomão Becker passou boa parte da infância em Piracicaba, quando morou na Rua Governador Pedro de Toledo, no Centro, e estudou na Escola Estadual Sud Mennucci. Aos 18 anos, deixou a cidade para se dedicar aos estudos universitários na capital paulista.
"Meu pai sempre disse que o período que viveu em terras piracicabanas foi o melhor da vida dele e, mesmo indo embora, levou todas as lembranças da cidade no coração", conta.
Segundo ele, o pai sempre lembrava, emocionado, das ruas, do rio, da Escola Normal (como se chamava a sua escola no passado), dos vizinhos e das músicas de infância. "Ele saiu de Piracicaba, mas Piracicaba nunca saiu dele" lembra o filho. A cidade foi, inclusive, parte da inspiração para que o 15 de outubro se tornasse comemoração como Dia do Professor. Segundo conta a história, em Piracicaba, professores e alunos já tinham o costume de levar alimentos e doces para uma confraternização nas escolas no dia.
Salomão Becker morreu em 2006 aos 84 anos, e a inspiração para o filho, Sérgio, foi tamanha que ele também se tornou educador, e atualmente com 66 anos, também dá palestras sobre o tema.
Origem do feriado
Segundo a Educação de São Paulo, foi no Ginásio Caetano de Campos, na capital paulista, que a ideia de comemorar a data surgiu em 1947. Nesta época, um grupo de professores liderados por Salomão resolveu organizar uma parada no segundo semestre para evitar o cansaço, pois o período letivo do segundo semestre era extenso e sem interrupções, indo de 1º de junho a 15 de dezembro.
A pausa não serviria somente para descansar, mas também para reorganizar as atividades escolares que prosseguiam até o fim do ano. Com isso, Salomão sugeriu que houvesse um encontro em 15 de outubro, data do decreto de Dom Pedro. Além disso, em Piracicaba, na data já era costume que professores e alunos levassem alimentos para confraternizar na escola e homenageava ainda o dia de Santa Tereza D'Ávila, considerada padroeira dos professores.
A proposta foi aceita pela direção e o primeiro encontro aconteceu naquele ano. Becker propôs, então, em seu discurso, que o encontro ocorresse anualmente e ficou conhecido por dizer as palavras: "Professor é profissão. Educador é missão".
A ideia de celebrar a data se espalhou por outras cidades de todo o país, e com isso, foi oficializada como feriado escolar a partir de 1963, pelo Decreto Federal 52.682.
"Para comemorar condignamente o Dia do Professor, os estabelecimentos de ensino farão promover solenidades em que se enalteça a função do mestre na sociedade moderna, fazendo participar os alunos e as famílias", diz o documento.
O educador
Filho de imigrantes europeus humildes do Leste Europeu, que partiram em 1913 rumo ao interior de São Paulo em busca de melhores condições de vida, Salomão Becker nasceu em 23 de fevereiro de 1922. Deixou as terras piracicabanas para estudar filosofia na Universidade de São Paulo (USP), onde também cursou história, sociologia e pedagogia, segundo o Ministério da Educação (MEC).
O primeiro emprego de Salomão foi como repórter do jornal "Folha da Tarde", período que escreveu uma nota sobre submarinos alemães avistados no litoral brasileiro. O texto da Secretaria de Educação de São Paulo conta que, no dia seguinte da publicação, oficiais do Exército foram até a redação e questionaram a forma de apuração da notícia, que, mesmo verdadeira, não podia ser veiculada, por questões estratégicas. A carreira jornalística dele, então, teve um ponto final.
Depois disso, Salomão começou a dar aulas em várias escolas da rede estadual paulista, como no Colégio Caetano de Campos, que hoje é sede da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Sérgio conta que, entre seus alunos, estavam o ator Tarcísio Meira, da TV Globo, e o educador Içami Tiba.
Depois de aposentado, com mais de 60 anos, Salomão decidiu cursar direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Sérgio conta ainda que, ao se formar, o pai foi convidado pela direção para ministrar aulas de Direito Internacional. No entanto, a vocação do educador apaixonado por ensinar falou mais alto e o advogado, já idoso, voltou a dar aulas na rede pública. Salomão Becker morreu em 2006, aos 84 anos.
*Sob supervisão de Samantha Silva, do G1 Piracicaba e Região