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Sex, 16 de Agosto 2019 - 15:16

Marcha das Margaridas: cem mil mulheres trabalhadoras rurais protestam em Brasília

Por: SCARLETT ROCHA - Revista Marie Claire - 14.08

 
 
Elas marcharam por 6 quilômetros em direção ao Congresso Nacional. Dentre suas reivindicações estão soberania popular, democracia, justiça, igualdade e o fim da violência de gênero
 
Acordadas desde as 5h da manhã, centenas de milhares de mulheres levantaram acampamento, montado no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, e marcharam 6 quilômetros em direção ao Congresso Nacional, em Brasília.
 
Munidas de seus tradicionais chapéus de palha e trajes roxos de todos os tons, coloriram a esplanada dos ministérios sob o lema "Margaridas na luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência". Organizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) de quatro em quatro anos desde os anos 2000, essa edição, a 6ª, contou com um número recorde de mulheres. As organizadoras estimam cerca de cem mil manisfestantes de todos os estados brasileiros.
 
"Estamos em um momento difícil para as mulheres, porque muitos dos nossos direitos estão sendo retirados e nós, mulheres o campo, das águas e florestas, estamos aqui unidas para mostrar não só para o Governo e para o Congresso, mas para a sociedade como um todo, qual o modelo de desenvolvimento queremos", disse a coordenadora geral da marcha, Mazé Morais, de 36 anos.
 
O nome da marcha presta homenagem à Margarida Maria Alves, ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoana Grande, na Paraíba. Ela foi assassinada em 12 de agosto de 1983, a mando de latifundiários da região. Os responsáveis pela sua morte nunca foram punidos, mesmo com a repercussão internacional do caso, que chegou a ser denunciada à Comissão Interamericana de Direitos. Para manter viva a sua memória, sua casa foi transformada em museu. Nas paredes do lugar está cunhada a frase mais famosa de Margarida: "Da luta eu não fujo. É melhor morrer de luta do que morrer de fome".
 
Pela primeira vez, o protesto ainda contou com a participação de mulheres indígenas de diferentes etnias.
 
Mazé Morais, 36 anos, coordenadora geral da Marcha das Margaridas, vive em Batalha, Piauí
 
"Quando a marcha de 2015 terminou, já começamos a organizar essa edição de 2019. Durante esses quatro anos realizamos um enorme processo de mobilização pela base, com inúmeros debates, ouvindo milhares de mulheres em centenas de municípios e mesmo aquelas que não participam, que não conseguiram vir para Brasília, se sentem muito representadas porque sabem o significado político dessa marcha e qual o impacto dessa ação em suas vidas."
 
Eleonora Menicucci, ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres
 
"Essa marcha tem hoje tem um significado mais do que simbólico, tem um significado político real: as mulheres como protagonistas na luta contra o estado de exceção, contra a perda de direitos e contra o fascismo que saiu do armário no Brasil."
 
Benedita da Silva, deputada federal (PT-RJ)
 
"Quando alguma coisa é danosa ao Brasil, é muito danosa para as mulheres, maioria da população. Essas mulheres que estão sendo massacradas todos dias estão demonstrando que não aceitam mais a crueldade e a negligência desse governo."
 
 
Maria do Rosário, deputada federal (PT-RS)
 
"A organização das Margaridas é muito diferente, muito forte, muito feminina, mas muito feminista também, e une a todas nós, mulheres do campo da cidade, em uma grande demonstração de força."
 
Cosma da Silva Barbosa, 72 anos,agricultora, vive em Casinhas, Interior de Pernambuco
 
"Essa é terceira Marcha das Margaridas que eu participo. Vim a primeira vez por curiosidade, em 2011 e achei lindo! Agora quero vir para as próximas enquanto eu viver."
 
Nilza Leonise da Silva, 39 anos, missionária, vive em Alagoa Grande, Paraíba
 
"Nasci e moro na mesma terra em que Margarida Alves lutou pelos seus direitos até ser assassinada e vim continuar essa luta para que o povo se conscientize."
 
Deisiane Maiane da Conceição Pereira, funcionária pública, 25 anos, vive em Paço do Lumiar, Maranhão
 
"Sou de uma família de agricultores que sempre trabalhou muito e através do Bumba-meu-boi eu consigo representar as minhas raízes para as outras margaridas."
 
Carolina Santos, 23 anos, vive em Ubatuba, São Paulo
 
"Sem território a gente não consegue desenvolver nossa cultura e as nossas tradições, então a gente resiste, como jovens, pela manutenção cultural dos povos tradicionais."
 
Isadora Ferreira, 34 anos, vive em Juiz de Fora, Minas Gerais
 
"São várias as bandeiras que eu carrego, mas sentia a necessidade de sair do espaço confortável da militância nas redes sociais. É muito diferente estar aqui na rua olhando nos olhos de outras mulheres, fortalecendo umas às as outras."
 
Luiza Canuto, 60 anos, índigena da etnia Tabajara, vive em Serra das Matas, Monsenhor Tabosa, Ceará
 
"As mulheres indígenas também são agricultoras familiares. O território, a terra, são fundamentais para os nossos povos. Temos a mesma luta que as mulheres do campo."
 
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