Daí a importância de o professor revelar aos alunos a sua visão de mundo — incluindo as suas concepções políticas — com franqueza e naturalidade. Pois na prática, quer o professor conte aos estudantes ou não, a turma apreende os sinais através da leitura dos nuances de sua atuação.
Mesmo quando finge neutralidade, sem perceber, o professor sempre se revela: seja com um comentário despretensioso, seja na expressão de genuína afetividade ou, ao contrário, de indisfarçável antipatia. E acima de tudo, a ideologia se revela na forma como o professor exerce a sua autoridade: o autoritarismo que silencia a turma tem uma natureza oposta da autoridade democrática que garante o aprendizado por meio da dinâmica de falar e escutar.
Alunos não são uma caixa vazia, como as pedagogias antigas supõem. Na verdade, eles são ricos de vivências extra-escolares e estão em constante ebulição, reagindo permanentemente não só ao conteúdo das disciplinas, mas também às mensagens verbais e não-verbais que o professor jamais deixa de emitir na sua dinâmica de comunicação.
Contudo, é indispensável ter consciência de que a forma pela qual os estudantes percebem a visão do professor tem importância decisiva para o aprendizado. Ora, se os alunos precisam cochichar entre si para conversar sobre o abismo entre o discurso e a prática do professor, como confiar no que ele diz? É nesse sentido que negar a expressão de uma concepção de mundo que, na prática, é nítida aos olhos dos estudantes, é uma forma certeira de quebrar vínculos indispensáveis à relação pedagógica.
Por isso que uma das preocupações centrais da prática docente deve ser a aproximação cada vez maior entre o que o professor diz e o que ele faz, ou o que a professora promete ser e o que ela realmente é. Incluindo aí a reflexão aberta e autocrítica sobre os seus valores, as suas próprias contradições e, naturalmente, sobre o seu compromisso em superá-las.
* Professor e pesquisador na Universidade Estadual de Londrina