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Sex, 21 de Junho 2013 - 16:15
Alunos de escolas públicas estão mais expostos à violência do que os de escolas particulares. A constatação é da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), divulgada hoje (19) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O documento mostra que adolescentes da rede pública presenciaram mais brigas com armas e sofreram mais agressões.
O envolvimento em confronto com arma de fogo foi testemunhado por 6,7% dos cerca de 110 mil estudantes ouvidos nas escolas públicas e por 4,9% dos de escolas privadas, 30 dias antes da entrevista. Já o confronto com arma branca foi declarado por 7,6% da rede pública e por 6,2% da privada. Os meninos acabam vivenciando mais episódios de brigas do que as meninas.
Na avaliação da pesquisadora em violência na escola, Miriam Abramovay, o número de envolvidos com arma de fogo 'é um escândalo', se levada em conta a projeção de estudantes na faixa escolar pesquisada: 3,1 milhões. Coordenadora de Políticas para a Juventude da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), ela alerta para a necessidade de campanhas de desarmamento.
"Temos uma juventude armada, muita gente usando arma de fogo, muitas vezes para pequenas desavenças, que não são graves", explicou. "Com base em pesquisas que realizei, os jovens diziam que um olhar pode levar à morte e isso é grave", completou, ao citar dados recentes que mostram o número expressivo de jovens assassinados por armas de fogo.
Na PeNSE, um a cada dez entrevistados disse ter sofrido agressão por um adulto nos últimos 30 dias antes da pesquisa. Nesse tipo de violência, as meninas (11,5%) aparecem como as maiores vítimas, embora o percentual de meninos agredidos chegue a 9,6%. Entre as escolas, a diferença entre pública e privada é pequena, de menos de um ponto percentual.
A pesquisa também mostra que alunos da rede pública relatam mais medo de violência no deslocamento para o colégio e na própria unidade. Nos últimos 30 dias antes da pesquisa, por não se sentirem seguros no caminho, 9,5% dos entrevistados das escolas públicas não frequentaram aulas. Entre os alunos de particulares, o percentual daqueles que deixaram de ir à escola foi 5%.
Ao comentar a comparação entre as escolas, Miriam pondera que os dados podem acabar responsabilizando as unidades públicas, que estão em situação menos favorecida em termos de investimento e do contexto socioeconômico. "São perfis diferentes", disse.
No Brasil, 8,6% dos estudantes com menos de 13 anos trabalham
A PeNSE (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar) 2012, divulgada nesta quarta-feira (19) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), aponta que 8,6% dos mais de 3,15 milhões de estudantes do nono ano com 13 anos ou menos de idade trabalhavam no Brasil em 2012.
No Sul do país esse percentual chegava a 11,9%, seguido do Centro-Oeste 9,9%, Norte 8,1%, Nordeste 7,8% e Sudeste 7,5%. O trabalho de aprendiz para menores de idade só é permitido por lei a partir dos 14 anos.
Quase 12% dos alunos do 9º ano responderam trabalhar e receber dinheiro para desempenhar as atividades e 1,2% responderam trabalhar sem remuneração. Os dados também revelam que o maior percentual de escolares que respondeu ter recebido remuneração pelo trabalho está no Sul com 15,1%.
O maior percentual de escolares que responderam não trabalhar está na região Sudeste (88,5%) e o de que responderam que trabalham está na região Sul (15,1%). Entretanto, as cidades com o maior número de estudantes do nono ano que disseram não trabalhar são Recife (92,3%), São Luiz (91,9%) e João Pessoa (91,6%), no Nordeste. Campo Grande, no Centro-oeste, foi a cidade em que mais adolescentes disseram trabalhar sem remuneração (2,4%).
Em 2012, 25,8% dos alunos relataram faltar aulas sem permissão dos pais. Deste total, 28,2% eram de escolas públicas, 14,4% eram de escolas particulares. Entretanto, 58,5% dos escolares declararam que os pais ou responsáveis sabiam o que eles faziam no tempo livre.
Embora a rede de proteção seja mais desenvolvida nas escolas particulares, o acompanhamento do tempo livre e dos deveres acontece mais nas escolas públicas, de acordo com o estudo.
O gerente de Estatísticas de Saúde do IBGE, Marco Antonio Andreazzi, ressaltou que os adolescentes são hoje a maior parte da população brasileira e que a pesquisa tem o potencial de levantar indicadores que dá um panorama do comportamento desse grupo no país.
"Entender os hábitos adquiridos durante a adolescência pode contribuir para políticas públicas capazes de diminuir a incidência de doenças e problemas desses adolescentes na vida adulta", comentou ele.
Perfil
A estimativa do IBGE é que cerca de 3,153 milhões de alunos cursavam o 9º ano no Brasil no ano passado. Segundo a pesquisa, 82,8% estudavam em escolas públicas e 17,2% em escolas particulares. A pesquisa mostra que 86% desses escolares tinham entre 13 e 15 anos de idade, faixa preconizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e quase a metade (45,5%) tinha 14 anos de idade.
O estudo revelou também que 62.1% dos escolares moravam na presença de pai e mãe, 28,5% somente com a mãe, 4% somente com o pai. Cerca de 5% disseram não morar com o pai ou com a mãe. Dos escolares entrevistados, 45,8% responderam que os pais entendiam seus problemas e preocupações. Os escolares do sexo masculino (47,2%) tiveram mais atenção dos pais ou responsáveis do que as meninas (44,6%).
Dos entrevistados, 35,7% disseram que o pai não tinha qualquer grau de ensino ou tinha somente o ensino fundamental incompleto. O percentual de escolares cujas mães não possuíam qualquer grau de ensino ou possuíam somente o ensino fundamental incompleto foi de 34,5% e 8,9% disseram ter mães com nível superior completo
Quase a totalidade dos estudantes das escolas privadas (95,5%) declararam possuir algum tipo de computador (de mesa, netbook, laptop), contra 59,8% dos alunos das escolas públicas. A diferença é similar em relação ao acesso à internet no domicílio: 93,5% dos escolares da rede privada e 53,5% da rede pública do País responderam ter acesso à internet em casa.
Ainda segundo o IBGE, 80,3% dos alunos de escolas privadas disseram que a família tinha carro, contra 44% dos estudantes de escolas públicas. A PeNSE apontou também que 86,7% das escolas tinham bibliotecas disponíveis para os alunos do 9º ano e 84,2% dos entrevistados tinham acesso à internet , sendo 21,3% com acesso a computadores em sala.
Agência Brasil - 19.06