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Seg, 19 de Agosto 2019 - 17:10

Bullying: A pior coisa que o professor pode fazer é fingir que nada aconteceu

Sophia Winkel - Revista Nova Escola - 19.08

 
 
Veja o que um dos maiores especialistas no assunto propõe para reduzir o número de casos
 
"O bullying só pode ser combatido quando alunos, professores e pais se unem. Não se trata de uma responsabilidade individual, mas sim de uma resposta coletiva para essa violência", afirma o pesquisador José Maria Avilés Martínez, doutor em Psicologia e professor da Universidade de Valladolid, na Espanha. Conhecido mundialmente pelas pesquisas pioneiras sobre bullying e cyberbullying, Avilés veio ao Brasil para participar do III Encontro Nacional das Equipes de Ajuda.
 
O evento reúne jovens e profissionais da Educação para discutir a prevenção de formas de intimidação, a criação de um clima de confiança entre alunos e professores, a cooperação e a empatia entre pares, entre outros assuntos. No Colégio Sigma, em Brasília, antes de fazer uma palestra para famílias sobre como poderiam colaborar para uma formação moral antibullying de seus filhos, Aviléz conversou com NOVA ESCOLA sobre soluções para esse problema mundial. Confira a entrevista:
 
NOVA ESCOLA  Como preparar um jovem para dar apoio às vítimas de bullying?
 
JOSÉ MARIA AVILÉS MARTÍNEZ - A escola não pode improvisar, mas sim planejar ações de formação específica para que os alunos estejam prontos para ajudar. Eles precisam aprender sobre comprometimento, confidencialidade, disponibilidade, companheirismo, empatia, escuta ativa, entre outros assuntos. Também têm de ser orientados sobre até onde podem socorrer. Quando os estudantes se deparam com casos em que há risco de vida, uso de drogas ou abuso sexual, devem recorrer a um adulto para que auxilie a resolver a situação.
 
O que os alunos podem fazer em suas rotinas para romper com esse tipo de violência?
 
É importante que estejam atentos para o que está acontecendo, sejam observadores e aproveitem da proximidade que têm com colegas que estão sofrendo agressões para oferecer ajuda. Portanto, começam observando, depois se aproximam, escutam, e só então buscam alternativas junto com a vítima. 
 
O que fazer quando uma vítima não quer ajuda?
 
Primeiro, antes de qualquer movimentação para resolver um caso de bullying, é preciso pedir permissão à vítima porque o que quer que seja feito vai afetá-la diretamente. Às vezes, ela está tão fragilizada, que não consegue nem falar sobre o que ocorre, não suporta estar no mesmo ambiente que o agressor e negará veementemente qualquer tipo de apoio. Então, o caminho é começar um trabalho de convencimento, explicando que "as agressões não podem continuar", que "mesmo que deixe o tempo passar, isso não será resolvido", que "não precisa enfrentar isso sozinha" e pode contar com a ajuda de muitas pessoas interessadas em solucionar essa questão. A vítima precisa ter confiança de que há pessoas comprometidas e confiáveis ao seu lado.
 
Como o professor pode intervir em um caso de bullying durante uma explicação de uma equação Matemática, por exemplo? O que fazer de imediato?
 
Sempre digo aos professores que eles precisam se antecipar. Já sabem que esse problema existe em todas as escolas e que eles são parte da solução. Por isso, quando um professor está explicando um exercício e acontece algo, ele precisa saber exatamente qual mensagem vai passar para vítima, agressor e demais alunos. Nessa hora, ele tem algumas opções. A pior delas é fingir que nada aconteceu e seguir lecionando. Essa omissão mostra seu posicionamento. Ele também pode fazer uma pausa, pontuar a gravidade do acontecimento e informar que ao final da aula precisará conversar com os envolvidos. Ou então, pode parar a aula, dizer que o que aconteceu é muito mais importante e, portanto, a aula dali por diante será destinada a resolver aquela situação coletivamente. É muito importante que o professor mostre o que pensa sobre essa violência e transmita mensagens claras à turma.
 
Como formar professores para situações assim?
 
É preciso investir em capacitação, pois as formações são insuficientes. Além de informações e formações, eles precisam saber atuar de forma concreta contra o bullying. Para isso, recomenda-se treinamento qualificado, para que sejam indagados sobre suas ações e reações diante de situações adversas. Não há espaço para improvisos. 
 
Sob uma perspectiva histórica, estamos próximos de vencer o bullying de uma vez por todas?
 
O bullying é um problema no mundo inteiro. Já foram feitas pesquisas e, não importam as variantes, ele está presente em todas as escolas. É interessante ressaltar que não se trata de um problema estritamente escolar, porque pode acontecer também fora da escola; não se trata de um conflito, pois há um desequilíbrio de poder, e é basicamente um fenômeno grupal, pois é o grupo que o alimenta. Para combatê-lo, não adianta fazer leis antibullying, adotar medidas do tipo "tolerância zero" ou nos tornarmos maltratadores institucionais dos agressores. A escola precisa ir incorporando ferramentas para melhorar a convivência a longo prazo. As iniciativas que tiveram melhores resultados na redução do bullying desenvolveram projetos específicos para construir uma consciência coletiva de enfrentamento. Infelizmente, esse tipo de assédio continuará existindo enquanto a as escolas não incorporarem as estratégias de combate como algo inerente ao dever escolar. 
 
 
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