APEOESP - Logotipo
Sindicato dos Professores

FILIADO À CNTE E CUT

Banner de acesso ao Diário Oficial

Publicações

Observatório da Violência

Observatório da Violência

Voltar

Ter, 22 de Maio 2018 - 19:14

Casos de violência em escolas de Mogi preocupam educadores

Por: Natan Lira

 

Uma briga gerada por homofobia. Um homem bate em um jovem sob a alegação de que ele teria roubado o celular do filho. Uma discussão em que uma das partes ameaça a outra com arma de fogo. Situações de extremo descontrole social com um agravante, aconteceram no ambiente escolar, dentro ou em frente às escolas estaduais Dr. Sentaro Takaoka, Camilo Faustino de Mello e Koheiji Adachi, respectivamente, na Cidade. Para a subsede de Mogi do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), a responsabilidade é do Governo do Estado, que prefere não debater, apenas se posicionar por meio de nota.

Vânia Pereira da Silva é coordenadora da Apeoesp de Mogi. Ela está ciente destes três casos e avalia que resultam de uma política de sucateamento do Governo do Estado, que diminui o número de professores em sala de aula e de funcionários em escolas, e que tenta proibir o debate humanizador durante as aulas. “Se tivéssemos mais funcionários trabalhando no Camilo, com certeza este pai teria passado por uma triagem antes e teria evitado que ele agredisse um aluno dentro da escola”, pontuou Vânia.

A professora conta que a violência nas escolas estaduais de Mogi tem tomado proporções assustadoras. Os registros são de professores agredidos por alunos, carro de funcionário incendiado, desentendimentos entre os estudantes e educadores e também entre aqueles que deveriam fazer da escola um lugar para aprender.

Para a professora, todo este cenário é reflexo de uma política que tenta proibir o professor de debater assuntos sociais que conscientizem os estudantes e também da divisão política da sociedade, que geralmente considera este tipo de assunto como comunista. “Um exemplo disso é o caso recente do prédio que desmoronou no Paissandú, em São Paulo. É necessário dialogar com o aluno que aquilo não é uma invasão, é a alternativa que as pessoas encontraram porque o Estado não garante os direitos básicos previstos na Constituição. É uma situação dada. Ou até mesmo se eu falar numa sala de aula que os casos de febre amarela são porque faltou prevenção do governo, a gente vai receber reclamações de parte dos pais e o estado querendo nos amordaçar”, diz.

Um exemplo disso, destaca Vânia, é a intenção do governo de retirar matérias como Filosofia e Sociologia da grade comum curricular, pois são matérias que debatem as questões sociais.

O Sindicato diz que está tentando marcar uma reunião com a dirigente regional de Ensino, Rosânia Morales Morroni, para tratar estes assuntos. O Diário solicitou entrevista com a responsável pelas escolas da rede estadual da Cidade, mas não foi atendido. Em contato por telefone, ela disse que concederia a entrevista, porém a Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado da Educação afirmou que o posicionamento oficial se daria por meio da seguinte nota: “A Diretoria Regional de Ensino lamenta os casos de violências ocorridos nos últimos dias e informa que tem realizado ações sistemáticas envolvendo professores mediadores e diretores, no tocante à “Cultura de Paz” nas escolas e a redução da violência no ambiente escolar. As ocorrências nas escolas estaduais Camilo Faustino de Mello e Koheiji Adashi, são de natureza externa, boletins de ocorrências foram registrados e a Polícia investigará o caso. A Diretoria mantém parceria com a Ronda Escolar, da Polícia Militar, responsável pelo patrulhamento no entorno das escolas”.

Pedagoga defende a união com a comunidade
ELIANE JOSÉ 

Numa avaliação sobre episódios de violência dentro (e fora) da escola, a professora Maria Geny Borges Ávila Horle afirma que a “escola, sozinha, é impotente para resolver uma questão social, que cabe à sociedade retomar, a partir da reconstrução de princípios morais e éticos”.

Ex-secretária municipal de Educação, formada em Pedagogia e Filosofia, Maria Geny afirma que, em “algum momento” da história recente, mudanças nos comportamentos sociais passaram a invalidar valores humanos, morais e éticos.

“Houve uma grande revolução de costumes, a partir de 1968, que não parou por ali. Eu me lembro do slogan “faça amor, não faça guerra”, quando muitas conquistas em nome da liberdade foram obtidas, quando pintamos os rostos com margaridas. Mas também houve uma quebra de valores muito intensa. Questões positivas como a valorização da mulher, a não discriminação do outro, a igualdade de direitos, nasceram, mas também noto, com o decorrer do tempo, que houve muitas perdas como a falta de respeito e zelo pela família, pela escola, pelos valores religiosos. Tudo isso nos fez a esse ponto”.

E como saímos desse ponto? Na avaliação da educadora, as mudanças terão de vir da sociedade. “Não apenas a escola, ou o poder público, mas a sociedade terá de mudar”, diz, fazendo um link com a valorização da cultura da violência. “Na TV, nas mídias, em grandes eventos, os games reúnem milhares de pessoas que repetem os circos dos horrores romanos”, pondera.

Provocada sobre o papel da escola, nesse contexto, a professora admite que também a escola tem um papel a executar. “Eu sempre bate muito nessa tecla, nas nossas reuniões com diretores, a escola precisa pregar valores, ser uma escola cidadã”, diz, acrescentando, no entanto, que o educador precisa ter o respaldo do estado. “É difícil, eu dizer isso, já fui secretária, mas sem ser valorizado, o professor, o diretor, não é estimulado a ser o líder que ele precisa ser, à frente dos estudantes”.

Outra reflexão é proposta por ela: “No passado, não era qualquer pessoa que entrava na escola. Nunca você vai desconfiar de um pai, mas é preciso vigiar, como aconteceu com o ex-aluno do Rio que não encontrou resistência e entrou na escola para matar”, adverte.

Topo

APEOESP - Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo - Praça da República, 282 - CEP: 01045-000 - São Paulo SP - Fone: (11) 3350-6000
© Copyright APEOESP 2002/2011