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Qui, 13 de Agosto 2015 - 00:26
Nesse sentido, a ênfase no sucesso e na autonomia faz com que o fracasso do indivíduo em alcançar êxito na vida escolar e profissional seja atribuído a condições pessoais e não à estrutura social e política. A impossibilidade de sucesso gera diferentes sentimentos, como o ressentimento e a agressividade, que acaba por atingir diretamente a escola.
Atualmente, a violência na escola é um problema de âmbito mundial. No estado de São Paulo, segundo a pesquisa “Violência nas escolas: O olhar dos professores”, realizada pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo (Apeoesp), quatro em cada dez educadores (44%) já sofreram algum tipo de violência na escola. A principal queixa é a agressão verbal (39%), mas 5% deles já foram vítimas de violência física.
Para lidar com essa realidade, a pesquisa aponta que programas de combate à violência dentro da escola têm surtido efeito. Em instituições com algum programa preventivo, 59% dos professores nunca sofreram agressões verbais ou físicas; naquelas que não têm ou tiveram campanhas de combate à violência, o número cai para 49% dos professores.
A banalização da violência, tanto no contexto mais geral do cotidiano da sociedade como internamente nas instituições escolares, tem sido apontada como um dos fatores responsáveis pela baixa qualidade densino no Brasil. O acúmulo de microviolências compromete o clima escolar e estudos demonstram uma relação direta entre essa deturpação e os resultados de aprendizagem. É importante acrescentar que os maiores índices de violência se localizam em territórios de alta vulnerabilidade social, onde se potencializa com as drogas e a presença, muitas vezes ostensiva, do tráfico nesses territórios.
A fragmentação das relações sociais na sociedade contemporânea e a perda de vínculos de confiança e convivência mais estáveis têm consequências graves na coesão do tecido social, especialmente para os grupos mais pobres. Entretanto, é importante ressaltar que a questão da violência não está restrita a escolas situadas em áreas menos favorecidas.
Por causa disso, a reação de muitas escolas segue a mesma lógica da ‘Cultura da Grade’, passando a se assemelhar a verdadeiros presídios. Nesse cenário, professores lidam de forma autoritária com a falta de disciplina e desordem geradas pelos alunos. O absenteísmo dos educadores potencializa ainda mais essa situação uma vez que crianças e adolescentes ficam no pátio sem ter o que fazer em um convite para desordem e agressões.
Na tentativa de manter a paz em seu interior, algumas instituições de ensino acabam lançando mão de políticas excludentes. Quando diante de uma realidade tão dura e complexa, é preciso pensar em Cultura de Paz, ressaltando que isso não implica em uma cultura do silêncio e da passividade, mas sim na participação dos alunos e do envolvimento de todo corpo docente sob a liderança do diretor. Abrir canais de diálogo e de respeito é uma forma salutar de se contrapor à lógica da violência e construir a paz por meio do debate e da exposição das diferenças.