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Qui, 30 de Janeiro 2014 - 15:40

Pesquisa aponta percepção de violência nas escolas estaduais de São Paulo

Falta de condições das salas de aula está entre as causas, mas repercussões de alguns casos podem agravar clima de insegurança

 

Quatro em cada dez professores da rede estadual de São Paulo dizem já ter sofrido algum tipo violência na escola. Entre os alunos, 28% afirmam o mesmo. A pesquisa “Percepção dos Professores, Alunos e Pais sobre a Violência nas escolas estaduais de São Paulo”, realizada pelo Data Popular para a Apeoesp, confirma um diagnóstico preocupante sobre o ambiente escolar.

As situações mais relatadas por professores, pais e alunos são agressões verbais, bullying, vandalismo e agressões físicas. A presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Isabel Azevedo Noronha, conta que a ideia de fazer a pesquisa surgiu porque casos de violência dentro das escolas acabam sendo banalizados como parte do cotidiano. “A violência pode ser física, verbal, bullying. A física propriamente dita é muito grande. Se a gente considerar que 6% dos professores afirmam que já apanharam e tem uma base de 240 mil, tem quase 20 mil professores apanhando na sala de aula. Isso acaba casando com os dados de uma outra pesquisa que nós temos, que é do adoecimento do professor. O que acontece quando esse professor apanha? Pode ter síndrome do pânico, não quer voltar pra sala de aula, fica estressado, com doenças metabólicas”, diz.

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Tanto professores como alunos e pais apontam que as condições das escolas estão longe de ser satisfatórias. As salas de aula têm uma média de cerca de 40 alunos, o que é acima do máximo ideal para 93% dos professores, 82% dos pais e 76% dos alunos. “As causas da violência para nós, professores, vêm muito das condições, a escola não está adequada ao aluno, então a aprovação automática acelerou o processo de violência nas escolas; os pais preferem dizer que tem a ver com drogas; e os alunos dizem que tem a ver com as condições da sala de aula, eles apontam a jornada do professor, os alunos admitem isso e admitem também que há um número excessivo de alunos por sala de aula”, analisa Maria Isabel.

Porém, a repercussão de alguns casos pode ajudar a criar um clima de insegurança que não corresponde à realidade. “Quando se analisam os dados quantitativos e objetivos, não há ocorrências graves na grande maioria das escolas. Pode-se dizer, de modo geral, que as escolas são lugares protegidos. Há ocorrências de brigas, por exemplo, mas isso não quer dizer que aconteçam sempre, todos os dias, envolvendo todos. O que acontece é que os casos que ocorrem repercutem muito. Cria-se assim, um clima e um certo pânico em torno das escolas e para quem nela trabalha, de que a violência tomou conta daquela escola. A maior parte dos relatos fala do desrespeito, ou seja, situações em que a autoridade do professor foi questionada, em que há atitudes de incivilidade”, afirma Flavia Schilling, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).

Causas e soluções

A pesquisa trata da violência de alunos contra professores e também entre alunos. Mas não aborda casos em que os alunos venham a ser vítimas de professores ou funcionários. “A principal queixa nas pesquisas é de alunos brigando/desrespeitando outros alunos e professores. Ou seja, não é vista a ocorrência de violências por parte das escolas ou professores, ou que esses alunos podem estar refletindo a violência doméstica, sexual, que sofrem. Em trabalho recente na rede pública municipal foi possível perceber que o número de casos de alunos agressivos ou com sérios problemas é pequeno. Mas dão a tônica da escola, criam um clima em que parece que todos são assim”, explica a professora da USP. A presidente da Apeoesp também avalia que as condições sociais dos alunos fomenta situações de violência. “Eu tenho claro que a escola que está aí, não tem outra forma, o aluno fica agressivo mesmo. É a lousa, o giz e o apagador. Quer dizer, o aluno não tem um lazer. Não estou querendo justificar a violência. Mas que a escola também não induz a um clima de sociabilidade, de solidariedade, não induz mesmo”.

A prevenção à violência passa mais pela melhoria da infraestrutura das escolas e pelo diálogo entre os públicos que pela vigilância. “Muito melhor do que câmaras ou dispositivos externos de segurança é contar com equipes de adultos professores/ diretores/ coordenadores fortalecidos, apoiados, que tenham uma linguagem comum, que tenham o desafio de construir uma escola justa, que saibam conversar e que realizem o direito a uma educação de qualidade, que produzam conhecimento, que valorizem o esforço e o trabalho de cada um”, defende Flavia Schilling.

As ações e campanhas contra a violência, quando realizadas, são avaliadas positivamente por 92% dos professores, 84% dos pais e 79% dos alunos. “A presença do professor mediador é um bom projeto. Por que só algumas? Por que não o governo implanta em todas?”, critica Maria Isabel. Flavia Schilling complementa: “quando a escola cumpre bem o seu papel de escola, tem um cotidiano desafiador e inteligente, há acolhimento e limites, os casos de brigas/ bullying/ discriminação/ desrespeito tendem a desaparecer. Uma escola com uma equipe unida, com autoridade, dialógica, comprometida consegue dar conta. Muitas vezes estas situações envolvendo os alunos se deve à absoluta falta de sentido e tédio profundo do cotidiano, que parece sem sentido”, diz a pesquisadora.

Site Tô no Rumo (Ação Educativa) - 29.01 - Texto: Bárbara Lopes

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