Os episódios de violência aconteceram na turma do oitavo ano da Escola Estadual Dona Vitu Giorgi, a partir do início de abril. “Ele quase não frequenta a escola, mas, quando vai, atrapalha o andamento das aulas”, disse Cleber. “Entrei na sala e para organizar conforme o mapeamento, pedi ao aluno, que estava fora da carteira, que sentasse em seu lugar”, relatou. Segundo o professor, o estudante reagiu mal e o ameaçou matá-lo, caso ele enviasse uma notificação à diretoria.
Após duas semanas de suspensão, no dia 17 de abril, o aluno voltou e o pedido para sentar no lugar certo se repetiu. Cleber disse que ele o acusou de perseguição, fez novas ameaças e jogou uma cadeira em sua direção. O professor fez nova queixa à diretoria. “Ele tomou outra suspensão. Depois de uns 15 minutos, ele voltou para a sala muito alterado. Chutou a lata de lixo em cima de mim e me deu socos e chutes. Disse que eu não ia sair dali vivo e que eu amanheceria com a boca cheia de formigas. Aí eu perdi a paciência e fui para cima dele, mas outros alunos saíram da sala e eu voltei atrás. Ele saiu gritando e me xingando”, contou.
Testemunhas teriam afirmado que o jovem seria traficante e que estaria infiltrado na instituição para vender drogas. O professor explicou que a escola é a única estadual da cidade e, por este motivo, a diretoria não poderia expulsar o estudante. “Se expulsarem, eles ficam responsáveis por transportar o aluno diariamente a uma escola estadual na cidade mais próxima”, completou.
O docente relatou problemas de saúde e disse que está de licença até dezembro. Ele admitiu que já sofria com a doença de Crohn anteriormente, mas afirmou que a situação agravou o quadro e trouxe novos distúrbios, psicológicos, principalmente. “Eu não durmo direito, assusto com qualquer barulho. Só em pensar em estar em sala de aula, sinto fobia e a pressão se altera. Minha vida está péssima”, lamentou. Cleber contou que passou a tomar ansiolítico, remédios para pressão e antidepressivo. “Tomo uns 10 remédios por dia. Tomava só dois antes. Gasto quase R$ 1 mil por mês, sem ter assistência”, disse.
O professor questionou ainda os resultados das perícias. “Já foram três. Quando eu faço, eles perguntam tudo e pegam atestado, mas colocam no Diário Oficial que eu estou em condições de trabalhar, mesmo sabendo de tudo isso. Os médicos dizem o contrário deles”, afirmou. Diante das negativas que recebeu, Cleber teme ser demitido pelo tempo de afastamento.
Cleber fez um Boletim de Ocorrência sobre o caso na Delegacia de Polícia de Oriente. O docente esclareceu que o registro aconteceu apenas em outubro porque foi desencorajado pela diretoria, para não revoltar ainda mais o aluno. O professor cobrou ação do governo. “Culpo mais o Estado do que o aluno, porque eles deveriam tomar uma atitude. Ele continua lá dentro. Nada acontece com ele? Vários professores já foram mortos por aí. Vão agir no dia em que ele me matar?”, criticou.
Procurada pelo Terra, a Diretoria Regional de Ensino de Marília, por meio da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, afirmou que "todas as providências com relação ao aluno foram tomadas pela direção da escola". Além de ser aplicada suspensão, os pais do estudante foram chamados e orientados pela direção da unidade. O Conselho Tutelar também acompanha o caso.
A secretaria salientou que seu sistema de perícias foi criado para atender de forma mais direcionada às características dos profissionais da Educação e para aprimorar a readaptação dos funcionários nos seus locais de trabalho. Médicos, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, entre outros especialistas são responsáveis por atender os servidores.
Por: Nayla Carvalho - Portal da Terra - 04.11