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Seg, 17 de Novembro 2014 - 15:09

Professor: Uma profissão agredida e desvalorizada

Pesquisas e relatos comprovam deterioração da profissão, mesmo assim cresce o número de matriculados em cursos de licenciatura.


Foi-se o tempo em que professor no Brasil era autoridade máxima na sala de aula e sua carreira era equiparada com a dos grandes profissionais do país. Além de lidar com a desvalorização crescente da carreira, os professores encontram um novo obstáculo na sala de aula - a agressão por parte dos alunos. Numa ponta o Brasil é o penúltimo país em pesquisa sobre valorização do professor. O estudo publicado no ano passado pela Fundação Varkey Gems, de Londres, apontou que o país só fica acima de Israel, o último da lista de 21 países. Neste caso o país que mais valoriza o seu professor é a China. O estudo foi baseado nas análises de procura pela profissão, status social dos professores e nível de respeitabilidade dos alunos para com os docentes.

Em outra ponta o Brasil está no topo do ranking de violência contra os professores. Uma pesquisa global feita Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) ouviu 100 mil professores e diretores de escolas do segundo ciclo do ensino fundamental e do ensino médio (alunos de 11 a 16 anos). Nesta pesquisa 12,5% dos professores ouvidos no Brasil disseram ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana. Trata-se do índice mais alto entre os 34 países pesquisados - a média entre eles é de 3,4%. Na pesquisa apenas na Coreia do Sul, na Malásia e na Romênia, o índice é zero.

AGRESSÕES VERBAIS
De acordo com a coordenadora do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) em Araçatuba, Neide Bonfietti, as agressões verbais contra professores são as mais comuns nas salas de aula. “É alta a incidência de casos de violência verbal dentro das escolas contra os professores. É lamentável, pois temos uma profissão que forma doutores, juízes, policiais e acabamos sendo hostilizados por ignorância e desrespeito dos alunos“, disse Neide.

Segundo pesquisa divulgada pela Apeoesp no ano passado, 44% dos professores da rede estadual já sofreram algum tipo de violência na escola. A agressão verbal é a forma mais comum de ataque, tendo atingido 39% dos docentes, seguida de assédio moral (10%), bullying (6%) e agressão física (5%). O estudo mostrou ainda que quem mais sofre violência escolar são os professores do sexo masculino que lecionam no ensino médio: 65% deles foram agredidos de alguma forma.

PROBLEMAS
A reportagem do O LIBERAL conversou com alguns professores da rede estadual de ensino, mas eles optaram por não serem identificados, para evitar retaliação por parte de seus dirigentes.

Uma professora que atua em todas as séries da rede estadual de 33 anos disse que não existe mais respeito em sala de aula. Ela presencia ataques verbais constantes. Para ela o problema está na estrutura familiar. “Hoje fazemos a função da família na escola. Não estamos ali somente para ensinar. Creio que os princípios básicos deveriam vir de casa. Perderíamos menos tempo e educando e ganharíamos tempo ensinando”, disse a professora.

Outro professor que atua na rede pública de ensino tem 37 anos e também destaca a falta de respeito dos alunos para com os docentes. Ele relata que em Araçatuba já houve registros das agressões mais variadas. O professor conta que a agressões mais comuns contam com palavrões de baixo nível, até discussões mais acaloradas. Os índices mais graves são as evoluções da verbalização para as agressões físicas. Elas variam desde o lançamento de objetos contra o professor até o contato físico. “Sei de colegas que levaram socos de alunos e que tiveram seus carros riscados. Conheço professores que já foram afastados com síndrome do pânico, sob ameaças de novas agressões”, enumerou o professor. Ele explica por qual motivo não há muitos registros policiais sobre o assunto. “Muitos não fazem boletim de ocorrência por vergonha. Outros são desencorajados pelos gestores para não exporem a escola”.

Esse professor não foi agredido por um aluno e sim por uma mãe de aluno. Numa reunião de pais ele recebeu ameaça de uma mulher ao relatar os resultados ruins da filha dela. A mãe da menin o ameaçou dizendo que ele iria pagar caro por se intrometer na vida da aluna. “Chamei a ronda escolar e ela saiu correndo. O processo durou mais de um ano entre depoimentos na Polícia Civil e as desculpas públicas que ela foi fazer na escola para arquivarem o caso. A diretora nunca se pronunciou a respeito. Como se não tivesse nada a ver com a situação”, desabafou o professor.

A coordenadora da Apeosp em Araçatuba disse que eles não registram casos de agressões contra professores. “Na região temos casos, mas poucos professores procuram a Apeoesp. Os casos de violência são resolvidos na própria Unidade Escolar ou na Diretoria de Ensino.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo e com a Prefeitura de Araçatuba, responsável pela educação infantil e o pelos anos iniciais do ensino fundamental. Os dois órgãos relataram que não registram agressões de alunos contra professores. A secretaria estadual divulgou nota sobre sua atuação na questão.
"A Diretoria Regional de Ensino de Araçatuba entende que o enfrentamento à violência no ambiente escolar deve ocorrer em diversas frentes, que englobam polícia, comunidade escolar e família. A administração regional desenvolve em todas as escolas, desde 2009, o Sistema de Proteção Escolar, programa que orienta as equipes gestoras e apoia professores e alunos envolvidos em situações de vulnerabilidade. Entre as ações do programa está a figura dos professores-mediadores, profissionais capacitados para criar ações preventivas nas escolas estaduais e ainda aproximar a comunidade das unidades em campanhas de prevenção à violência, racismo e outras formas de discriminação. Na região de Araçatuba, atualmente há 74 professores-mediadores nas escolas estaduais", diz a nota.

DIRETORA AGREDIDA
Um dos casos mais recentes envolvendo agressão em escola envolveu a diretora da escola Estadual Doutor Clóvis de Arruda Campos em Araçatuba. Ela foi agredida por um aluno de 13 anos na tarde da última terça-feira (12). A diretora repreendeu o aluno ao flagrá-lo danificando uma parede da escola. Ela foi agredida com cotoveladas, empurrões e arranhões. O menino foi levado para o Plantão Policial onde foi ouvido e liberado. A Secretaria de Educação chegou a confirmar o caso por nota imprensa e disse que tomou todas as providências em relação ao ocorrido. “Os pais dos alunos identificados como autores do vandalismo foram convocados, o Conselho Tutelar acionado e um boletim de ocorrência registrado. Os estudantes serão suspensos de acordo com o regimento escolar e os responsáveis dos alunos vão arcar com os danos causados ao patrimônio público”, disse a nota indicando que mais vândalos foram identificados além do agressor.

ESPERANÇA
Em meio ao quadro de agressões e desvalorizações da profissão, um dado confirma o interesse de mais pessoas se formarem professores. O Censo da Educação Superior de 2013, divulgado neste ano mostrou que em números absolutos, houve aumento de 55% nas matrículas dos cursos de licenciatura (formação de professores) no país em 10 anos. As matrículas passaram de 885.384, em 2003, para 1.374.174, em 2013.

Portal LR1 - 16/11/2014 - Thiago Esteffanato - Araçatuba
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