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Ter, 03 de Outubro 2017 - 16:19
Em números absolutos, são cerca de 800 mil estudantes e 104 mil professores do estado que já sofreram algum tipo de violência - física ou psicológica
O silêncio costuma imperar no ambiente de trabalho escolar. Afinal, violência e Educação não combinam. Mas uma pesquisa elaborada pelo Instituto Locomotiva e a Apeoesp – Sindicato dos Professores do Estado mostra que mais da metade dos professores (51%) já sofreram algum tipo de violência em seu ambiente de trabalho. Na pesquisa anterior (2013/2014), o percentual era de 44%.
A violência não se limita à parte física, como agressões e furtos, mas também psicológica, com xingamentos, discriminação e preconceito. Estas não deixam marcas na pele, apenas no psicológico das vítimas. E o impacto é gritante em muitos docentes que entram na fila dos readaptados, ou seja, após sofrerem algum tipo de violência não conseguem retornar à mesma escola ou até mesmo a uma sala de aula.
E assim, explodem os números de afastamentos de professores, trazendo prejuízos a todos. Aos docentes, vítimas deste processo e tortura psicológica; aos alunos, que deixam de ter aulas, comprometendo seu futuro acadêmico e ao Estado que precisa pagar pelo afastamento do profissional, além de arcar com os custos dos substitutos. Ou seja, paga-se em dobro.
Para se ter ideia do tamanho deste universo, o crescimento no volume de vítimas passou de 28% na pesquisa anterior para 39% na atual. Em números absolutos, são cerca de 800 mil estudantes e 104 mil professores do estado que já sofreram algum tipo de violência no último ano.
Foram 2.554 professores paulistas entrevistados entre 1 e 11 de setembro, um universo respeitável. A falta de policiamento, presença de drogas e álcool também contribuem para a insegurança, segundo a pesquisa.
Algumas sugestões dos entrevistados devem ser levadas em consideração para alterar este quadro, que só tende a se agravar. Ampliar as opções de esportes, cultura e lazer para estes jovens e que as famílias tenham maior envolvimento no cotidiano escolar dos filhos.
Diante desta triste realidade, ações precisam ser realizadas para reverter este cenário. A Justiça Restaurativa é uma prática que pode e deve ser acelerada. Criada em 2005 em São Paulo, tem como proposta ser um método alternativo de solução de conflito que pode ser utilizado em qualquer etapa do processo criminal e consiste na adoção de medidas voltadas a solucionar situações de conflito e violência, permintindo a aproximação entre vítima, agressor, familiares e a sociedade na reparação dos danos causados por um ato criminal ou infracional.
A medida vem sendo implantada em escolas paulistas, incluindo Santos, mas ainda a passos lentos. Ações como esta podem ser uma real alternativa para conter este triste cenário e merecem ser ampliadas. Caso contrário, o tema violência continuará sendo disciplina prática também aprendida em sala de aula.
* Professor universitário e editor do Boqnews