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Sex, 25 de Agosto 2017 - 17:51

Violência nas escolas vira rotina em Ribeirão Preto

Por: Lucas Catanho - CBN Ribeirão Preto - 24.08

 
Ameaças, agressões verbais e xingamentos são queixas praticamente diárias no sindicato dos professores
 
O caso da professora catarinense ferida no início desta semana após ser agredida por um aluno de 15 anos levanta a discussão sobre a violência nas escolas, “jogada para debaixo do tapete”, segundo especialistas.
A Apeoesp (sindicato dos professores estaduais) declarou que relatos de ameaças, agressões verbais e xingamentos provenientes de alunos são “praticamente diários” nas escolas de Ribeirão Preto e região. Situações que tiram o sossego e o prazer do professor em trabalhar.
 
“Neste ano não tivemos nenhum caso grave que tenha chegado à agressão física, mas sabemos que diretores são orientados a não fazer boletim de ocorrência. Já tivemos caso de professor que fez o boletim e foi advertido pela direção por desobediência”, declarou Mauro Inácio, diretor estadual do sindicato.
 
O caso mais recente que chegou ao conhecimento da Apeoesp ocorreu na manhã de ontem em uma escola estadual de Ribeirão Preto, com uma professora que atuava como substituta. O conflito virou caso de polícia.
 
Márcia (nome fictício) denuncia que, após discutir com um aluno de 17 anos por ele ter se negado a assinar a lista de presença, teve a sala de aula contra ela. “Eles diziam: ‘Some daqui, sai daqui!”, relembra.
 
Com medo de que acontecesse o pior, Márcia conta que saiu da sala de aula e foi até a sala de professores com medo de ser agredida fisicamente. “A diretora quis saber o que aconteceu e eu contei. Fui embora e fiquei com falta”, relembra.
 
O aluno, por sua vez, fez boletim de ocorrência ontem à tarde contra a professora.
 
Segundo a denúncia, ela teria dito a ele que o aluno não teria condições de pagar uma faculdade particular nem de passar numa faculdade pública após ele se negar a assinar a lista de presença. Depois, a docente teria feito menções a um pré-candidato à Presidência do Brasil sugerindo acabar com os homossexuais – o aluno envolvido no caso é homossexual.
 
Antes
 
A professora Márcia relembra que, dois dias antes, na última segunda-feira (21), passou por outra situação de violência.
 
“Um aluno veio e me deu uma ‘gravata’ no meio da aula – isso foi na primeira aula. Na última aula, o mesmo aluno veio de novo quando eu estava prestes a entrar na sala e colocou uma blusa de frio em mim. Também bagunçou meu cabelo. Falei que não dava liberdade a ele, daí veio outro colega e mandou ele me processar. Pedi suspensão dos dois e, ao fechar a porta, alunos de outra sala deram murros na porta e disseram: ‘Você vai apanhar’.”
 
Professora leva socos
 
A professora catarinense Marcia Friggi, de Indaial (SC) relata ter recebido uma sequência de socos na segunda-feira (21) depois de ter expulsado um estudante de 15 anos da sala por mau comportamento. O caso aconteceu no Ceja (Centro de Educação de Jovens e Adultos) da cidade.
 
Em uma publicação feita no Facebook, Marcia deu detalhes do incidente, que ocorreu após ela ter pedido que o aluno colocasse o livro sobre a mesa.
 
“Eu coloco o livro onde eu bem quiser”, foi a resposta do garoto. Depois de ser contestado, ele ofendeu a professora com um termo chulo e foi expulso da sala. Ao acompanhar o aluno, a professora acabou sendo agredida com uma sequência de socos.
 
Pais foram chamados
 
Sobre os dois casos relatados pela professora, a Diretoria Regional de Ensino de Ribeirão Preto esclarece que os pais dos alunos foram chamados e que a professora mediadora, profissional especializada em administrar conflitos, está atuando para melhorar o ambiente escolar.
 
“Em caso de conflito, as escolas trabalham com medidas restaurativas e educativas e contam com o apoio da família, do professor mediador e da rede de proteção, formada por Conselho Tutelar e Conselho de Escola, composto, por sua vez, por professores, pais, alunos, funcionários e comunidade”, declarou, por meio de nota.
 
A Secretaria de Estado da Educação não respondeu se tem um levantamento de quantos casos de agressão contra professores foram registrados na região de Ribeirão neste ano e em 2016, nem quais são as orientações dadas aos professores agredidos por alunos em sala de aula.
 
Sem casos neste ano
 
A Secretaria Municipal da Educação declarou que, neste ano, não há registros oficiais de casos de agressão contra professores em escolas da rede. Em 2016, houve registro de um caso, acompanhado pela Secretaria da Educação em conjunto com o Ministério Público.
 
“Caso ocorra a agressão, o professor deverá procurar a direção da unidade escolar e esta, por sua vez, entrará em contato com a coordenação correspondente, na Secretaria da Educação, para análise do caso e encaminhamento adequado.”
 
A pasta acrescenta que, caso haja agressão, a secretaria prestará apoio administrativo e psicológico, com acolhimento do professor e respaldo para os encaminhamentos necessários.
 
“Com relação ao aluno, a Secretaria da Educação atuará no sentido de entender o contexto dos fatos e diagnosticar possíveis causas de conflito, envolvendo escola e família nesse processo.”
 
Apoio jurídico ao professor
 
Apeoesp (sindicato dos professores da rede estadual)
 
Onde fica: rua Dr. Loyola, 445, Vila Tibério. Telefone: (16) 3636-8522
- O advogado do sindicato orienta o professor sobre legislação – o que o professor pode e não pode na relação com o aluno, por exemplo
- O sindicato orienta os professores vítimas de agressão verbal, física ou ameaça a registrarem boletim de ocorrência, inclusive com acompanhamento do advogado
- Ao todo, são 3.900 professores associados de 13 cidades da região
 
Fontes: Apeoesp e A Cidade
 
ANÁLISE - Autoridade do professor desmoronou
 
“Antigamente havia a figura de autoridade do professor legitimada pelos mecanismos de controle, como a nota pelo comportamento, por exemplo. Hoje, com a progressão continuada, em que o aluno passa de ano sem saber, perdeu-se isso. Não se pode mais reprovar o aluno, não se dá mais nota pelo mau comportamento, não se pode expulsar o estudante da escola. Houve um desmoronamento da autoridade do professor e o empoderamento do mau aluno. Com isso, a violência está paralisando o processo pedagógico. A solução, em primeiro lugar, é dar ao professor tecnologias educacionais para tornar a aula mais atrativa, o aluno hoje tem inteligência digital. Além disso, devem ser implantadas leis para punir rigorosamente os alunos agressores. As escolas precisam parar de jogar a violência para debaixo do tapete. Daqui a pouco, ninguém mais vai querer ser professor.” Sérgio Kodato, Coordenador do Observatório de Violência da USP.
 
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