Qui, 13 de Fevereiro 2025 - 18:29
A revolução musical de Gal Costa em meio à ditadura é tema de Mestrado em História
Por: Por: Ana Maria Lopes
O pesquisador e professor Felipe Aparecido de Oliveira Camargo obteve o título de Mestre em História com a dissertação "A trajetória artística de Gal Costa entre o Tropicalismo Musical e a Contracultura (1968-1973)". O trabalho foi apresentado no Programa de Pós-Graduação da Unesp de Franca, em 17 de dezembro de 2024.
Sob orientação da historiadora Tânia da Costa Garcia, o pesquisador investigou a trajetória artística da cantora Gal Costa no campo das produções culturais brasileiras durante o final dos anos sessenta e começo dos setenta.
Álbuns, shows e entrevistas da cantora são analisados na dissertação, que pesquisa como a performance e a identidade artística de Gal foram moldadas nas parcerias estabelecidas na contracultura.
"A indústria cultural estava se consolidando no Brasil naqueles anos de chumbo; por isso, pesquisei inclusive a vendagem dos álbuns que Gal Costa produziu na época", explica Felipe Camargo.
Para o autor, a performance da Gal era tão expressiva que extrapolou o cenário musical, estabelecendo-se como marco de resistência em meio à ditadura. "As referências eram muitas, do rock internacional a tendências como a Jovem Guarda; Gal acabou sustentando o tropicalismo, quando Gil e Caetano já estavam exilados, em plena vigência do AI-5", conta.
O pesquisador analisa algumas músicas gravadas por Gal Costa na época e que tornaram-se atemporais, com significados que extrapolam o contexto, como "Dê um Rolê", que está no álbum "Gal a Todo Vapor", um marco da performance de uma artista que "conflitava com os padrões conservadores dos setores sociais que endossavam o golpe e a ditadura militar como um freio à revolução dos costumes.".
"Não se assuste pessoa/ Se eu lhe disser que a vida é boa". Essa introdução sugere ao ouvinte notar o lado positivo da vida, mesmo diante do contexto obscuro, ressaltado na faixa anterior. Outros trechos da música, como "Enquanto eles se batem/ Dê um rolê e você vai ouvir/ Apenas quem já dizia/ Eu não tenho nada/ Antes de você ser, eu sou/ Eu sou, eu sou/ Eu sou amor/ Da cabeça aos pés", refletem uma renúncia à participação nos conflitos e tensões da época, que eram notados nas disputas entre os grupos de resistência à ditadura e a luta armada", avalia Felipe Camargo.
Na conclusão de sua dissertação, o pesquisador considera que, ao adotar "uma performance que oscilava entre o sensual e o agressivo, Gal se afirmou enquanto expoente de um campo da resistência cultural à ditadura militar que se utilizava das manifestações corporais e subjetivas para expressar contestação e rebeldia aos valores do regime.".
SERVIÇO: "A trajetória artística de Gal Costa entre o Tropicalismo Musical e a Contracultura (1968-1973)", de Felipe Aparecido de Oliveira Camargo, está publicada integralmente no Repositório Institucional da Unesp: https://repositorio.unesp.br