Seg, 29 de Abril 2013 - 14:25
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"O Silêncio do Professorado na Educação" é o título do mestrado que a jornalista Fernanda Campagnucci está concluindo na Faculdade de Educação da USP. "Há uma configuração desfavorável para que os docentes participem das discussões", lamenta a jornalista, que é editora do Observatório da Educação, criado pela ONG Ação Educativa.
Apesar de não haver mais mecanismos legais que impeçam o professor de se expressar, caso da já revogada Lei da Mordaça, ainda há um misto de constrangimento e medo nas escolas.
Todos que acompanham a cobertura de temas jornalísticos relacionados à Educação sabem que muitas vezes os professores que estão na sala de aula não são sequer ouvidos nas reportagens e debates. Mas, na maioria das vezes, eles não querem realmente falar, porque não podem ou acreditam que é melhor evitar declarações, para não sofrer coação.
O mestrado de Fernanda Campagnucci revela que quando o assunto é Educação, quem aparece para falar em debates públicos e reportagens são os chamados especialistas, pesquisadores acadêmicos, economistas e representantes do Governo.
De acordo com a jornalista, há fatores como o papel do professor na sociedade contemporânea e a existência de mecanismos administrativos e burocráticos que tolhem a liberdade de expressão do 'profissional de ponta', o que está na sala de aula que, afinal, seria o mais apto a falar sobre temas como currículo e formação docente.
"Há ainda representações que circulam no imaginário social, como o despreparo dos docentes", explica Fernanda, que destacou em um artigo sobre a valorização profissional que "um olhar mais atento para as imagens do professor na mídia não deixa de captar uma flagrante contradição: de um lado, os docentes são retratados como heróis, sofredores, vocacionados, vítimas, salvadores. Por outro lado, a mesma mídia denuncia como são preguiçosos os docentes, negligentes, mal formados, desmotivados e acomodados".
O professor da Faculdade de Educação da USP Ocimar Alavarse, que também pesquisa o tema, acredita que haja ainda o receio de se uma exposição profissional negativa em matérias que apontam as falhas do ensino público e o medo pelo suposto controle da imprensa ou deturpação de declarações e situações expostas.
A autora do mestrado defende que os professores podem fazer a diferença ao expressar-se sobre os desafios da Educação. "A sociedade tem muito a ganhar, mas eles têm de se dispor", acredita.