Ter, 05 de Novembro 2013 - 13:57
Por: Ana Maria Lopes
Professor e ex-aluno da rede pública paulista, Carlos Eduardo Dias Machado tornou-se bolsista do primeiro programa de ação afirmativa na Pós-Graduação do Brasil. Com o incentivo do Programa Internacional de Bolsas de Pós-Graduação da Fundação Ford (International Fellowships Program - IFP), o professor de História, graduado na USP, pesquisou a escolarização dos afrodescendentes nas décadas de 20 e 30 na cidade de São Paulo.
A dissertação de mestrado "População negra e escolarização na cidade de São Paulo nas décadas de 1920 e 1930", apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP em 2009, retrata as políticas educacionais promovidas pelas instituições estatais na primeira e segunda Repúblicas.
Para o autor do trabalho, estas políticas não foram neutras e equitativas. "Os princípios liberais de democracia e igualdade da Constituição de 1891 conservaram os processos de assimetria racial e social e postergaram igualmente o enfrentamento das desigualdades que conformavam o círculo vicioso do racismo, em particular no âmbito da educação", explica o professor na apresentação do trabalho de 154 páginas.
A dissertação parte do princípio de que o regime republicano brasileiro e, especificamente, o Estado de São Paulo não criaram políticas focadas na população negra, o que colaborou para reproduzir defasagens históricas.
"Buscamos compreender a lógica da educação pública do período, investigando, em especial, o preconceito e a persistência de estigmas e estereótipos raciais no discurso sustentado pelo pensamento imperial e republicano", esclarece Carlos Eduardo.
Entre os subsídios da pesquisa, estão a historiografia do período pós-abolição e os jornais "O Clarim d´Alvorada", "Progresso" e "A Voz da Raça", todos da chamada 'imprensa negra' das décadas de 20 e 30.
Através deste material, o pesquisador avaliou as contraposições entre os discursos e ações do ensino público paulista e as atividades educativas das organizações anti-racistas do período, como o Centro Cívico Palmares e a Frente Negra Brasileira.
Além da temática da escolarização, o professor Carlos Eduardo Dias Machado também dedica-se a pesquisas sobre a presença afrodescendente nas áreas científica e tecnológica. O assunto já rendeu um livro, ainda não publicado, e é tema de reportagem na edição 2013 do Boletim da Consciência Negra da APEOESP.
Entre os agradecimentos pelo apoio à pesquisa de mestrado, o professor esclarece a preferência pela Educação Pública e pela temática étnico-racial . "Minha homenagem a todos os meus colegas dos bancos escolares do ensino público em São Paulo e Diadema que, por diversos motivos, ficaram no meio do caminho, pararam de estudar, trabalharam, criaram seus filhos e entraram para as frias estatísticas da evasão e do baixo índice de negros no ensino superior e pós-graduação no Brasil. É necessário revertermos esse processo e criarmos, de fato, igualdade de oportunidades para negros e indígenas e, assim, evitar o desperdício de talentos no desenvolvimento do País", defende Carlos Eduardo, sem esquecer de destacar o apoio dos seus professores do Ensino Médio da Escola Estadual Professora Antonieta Borges Alves, que acreditaram que o garoto de Diadema estava apto a ingressar na USP.
SERVIÇO: A dissertação de mestrado "População negra e escolarização na cidade de São Paulo nas décadas de 1920 e 1930" está disponível na íntegra na Biblioteca Digital da USP: www.teses.usp.br. Contatos com o autor através do e-mail carlosedmachado@usp.br.