Qua, 29 de Abril 2020 - 17:09
Por: Ana Maria Lopes
As diferentes narrativas sobre a greve que a APEOESP conduziu em 2015 foram analisadas pelo professor Luis Tavares da Silva Sobrinho na sua dissertação de mestrado “Imprensa e APEOESP: a greve dos professores do Estado de São Paulo de 2015”.
A dissertação, defendida no último mês de fevereiro, garantiu ao professor o título de Mestre em Ciências Humanas pela Universidade de Santo Amaro.
Com uma abordagem interdisciplinar, que utiliza a História, a Sociologia e a Comunicação, o professor contrapôs a narrativa da Folha de São Paulo sobre a greve do Magistério à narrativa da APEOESP, através do seu Jornal e publicações internas, como Informa Urgente e atas de assembleias.
A pesquisa foi dividida em três capítulos: o primeiro sobre a história dos movimentos grevistas antecedentes a 2015, o segundo sobre a abordagem da greve na chamada grande imprensa e também na imprensa sindical e o terceiro traz um balanço destas narrativas.
Para o professor, o entendimento da complexidade de uma greve no setor da educação passa por questões como a preocupação com o atendimento do cidadão e a implementação de políticas públicas. “A greve dos professores amplia seus horizontes, para além das questões econômicas e trabalhistas”, acredita Luis Tavares.
O trabalho engloba questões recentes, que provocaram polêmicas e intensa mobilização da APEOESP, como a tramitação do Plano Estadual de Educação na Assembleia Legislativa de São Paulo e a reorganização – fechamento de escolas – anunciada pelo então secretário Herman Voorwald.
Ao analisar editoriais da Folha de S. Paulo sobre a greve, Luis Tavares deparou-se com uma abordagem parcial. “A Folha se coloca ao lado da perspectiva neoliberal, ao adotar o discurso da ‘preocupação fiscal’ do orçamento em detrimento à deterioração da escola pública, avalia o professor.
A estigmatização das reivindicações da categoria pela imprensa empresarial minimiza a situação caótica da Educação Pública. “Antes mesmo de informar o leitor sobre a reivindicação das perdas salariais, a Folha passa, muitas vezes, a mensagem de que as greves do setor público da educação causam prejuízos aos alunos, sendo as mesmas ineficazes, pois o governo não tem como recuperar os índices salariais. Na verdade, deveria ser dito que não há vontade política para investir nos filhos dos trabalhadores, pois é esse o perfil da escola pública: atender aos anseios de qualidade para a educação dos filhos dos trabalhadores”, defende o pesquisador.
O mestrado do professor Luis Tavares resgata uma história recente, que teve início nas reivindicações dos professores paulistas em 2015 e amplificou para toda a sociedade problemas, como as péssimas condições e a precarização do trabalho docente. “O envolvimento do sindicato dos professores nas questões sociais mais amplas insere-se no fortalecimento dos movimentos sociais e fortalece e legitima a ação docente, pois aquilo que a escola deve esperar dos alunos, ou seja, a formação de uma cidadania crítica e participativa, é vivenciado pelos professores”, conclui a dissertação, que em breve estará disponível para download na Biblioteca Digital da Universidade de Santo Amaro.