Ter, 03 de Dezembro 2013 - 15:19
Por: Ana Maria Lopes
A construção da estética feminina nas composições de Rita Lee é o tema do mestrado apresentado no dia 08 de novembro na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.
José Antônio Barbosa Alves dos Santos analisou, na disciplina de Filologia e Língua Portuguesa, músicas compostas pela cantora durante três décadas: entre 1974 e 2004. O resultado da pesquisa está em "As faces de Eva: o universo feminino no léxico de Rita Lee", uma dissertação repleta de referências sobre as diversas esferas do universo feminino.
Desde o início de sua carreira, Rita Lee compôs músicas que retratam mulheres independentes, inteligentes, provocadoras e donas da própria sexualidade. “Sempre observei uma ênfase nas figuras femininas em suas canções, que são muito relevantes na análise do papel da mulher na sociedade contemporânea", analisa o pesquisador, que identifica-se com a abordagem que a compositora dá o tema, sendo debochada e descompromissada com os padrões tradicionais.
Na obra de Rita, imagens femininas transgressoras e contestadoras convivem com mulheres apaixonadas e ainda dependentes. Para identificar estas figuras, José Antônio Barbosa reuniu um grande número de lexias relativas a questões próprias do universo feminino e distribuiu em grupos criados através de identidades semânticas verificadas em determinados conjuntos de palavras (campos semânticos).
Revolução feminista
"A contribuição de Rita Lee para a ampliação dos direitos das mulheres vai muito além do cenário musical. Os movimentos que levaram as mulheres a conquistarem direitos e ampliarem sua participação social e política também geraram público para uma produção musical mais crítica, a partir dos anos 70 ", acredita Barbosa.
A análise acadêmica das composições revela ainda que o papel estético e sexual da mulher são trabalhados de modo que sirvam à própria mulher, e não a algo exterior a que ela se submeta. Para o pesquisador, Rita Lee trata de figuras femininas não submissas, que tomam iniciativa na relação sexual e dão as orientações ao parceiro conforme lhes convém. "No discurso de Rita, a sexualidade feminina é explícita e tratada com liberdade”, analisa o autor.
Entre as canções analisadas no mestrado de José Antônio Barbosa Alves estão dois 'hinos' do feminismo: "Cor de Rosa Choque", composta em 1984 com Roberto de Carvalho, e "Pagu", que Rita Lee compôs em 2004 com Zélia Duncan. São dois retratos da mulher brasileiras em momentos da História recente do País.
"Nas duas faces de Eva / A bela e a fera / Um certo sorriso de quem nada quer / Sexo frágil não foge à luta / E nem só de cama vive a mulher", cantou Rita Lee em "Cor de Rosa Choque".
Já "Pagu" desconstrói o estereótipo da mulher brasileira hipersexualizada para enaltecer o poder feminino, em versos como "Nem toda brasileira é bunda / Meu peito não é de silicone / Sou mais macho que muito homem / Sou rainha do meu tanque / Sou Pagu indignada no palanque".
SERVIÇO: "As faces de Eva - O universo feminino pela escolha lexical de Rita Lee", dissertação de mestrado de José Antônio Barbosa Alves dos Santos estará disponível na Biblioteca íntegra na Biblioteca Digital da USP: www.teses.usp.br