Qui, 11 de Abril 2013 - 15:08
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Jornalista e professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Stela Guedes Caputo editou em livro o resultado da sua extensa pesquisa acadêmica, do mestrado ao pós-doutorado, sobre a Educação e o Candomblé.
Pesquisadora da área há mais de 20 anos, a professora acompanhou a infância e adolescência de praticantes do candomblé, que foram vítimas de discriminação religiosa na escola. O tema foi abordado no mestrado e doutorado na PUC-Rio e no pós-doutorado na UERJ.
O livro “Educação nos terreiros: e como a escola se relaciona com o candomblé” (Editora FaperRJ-Pallas) lançado em 2012, faz um balanço das consequências da discriminação a longo prazo.
Para analisar o impacto da intolerância religiosa contra crianças, a pesquisadora acompanhou durante 13 anos a trajetória de cinco estudantes, praticantes do Candomblé na Baixada Fluminese. Ela entrevistou, fotografou, participou da vida escolar e nos terreiros e ouviu depoimentos desconcertantes como o do garoto que revelou que "nunca foi discriminado, a não ser aquele preconceito normal.".
Questões como fé, tradição, preconceito e educação aparecem em todos as entrevistas realizadas para o trabalho, cujo objetivo é debater a questão da intolerância religiosa nos meios educacionais e os paradigmas que orientam a educação nas comunidades religiosas de origem africana.
O primeiro contato direto de Stela com o tema começou quando ela ainda trabalhava como jornalista, em 1992, e escreveu a reportagem "Os Netos de Santo" para o jornal carioca O Dia.
Desde então, temas como a diversidade na escola e a importância dos espaços informais de Educação passaram a fazer parte do seu trabalho. "O livro traz um pouco do que pesquisei nas casas de candomblé e também o que vi de discriminação e racismo nas escolas”, afirma Stela Caputo.
Segundo a pesquisadora, grupos religiosos hegemônicos e de matriz cristã, apoiados no artigo 33 da Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases, têm extrapolado o que diz a própria lei e implantado um clima de opressão à liberdade de expressão para muitas crianças, adolescentes, jovens e adultos negros e brancos, praticantes do candomblé e de outras religiões cuja base não é a judaico-cristã.
"O estudante, às vezes, ouve uma professora dizer que ele é filho ou filha do Diabo. Apesar de ter orgulho da religião, esse aluno sofre e, por isso, a maioria esconde a religião que ama. Isso é sofrimento, e sofrimento marca para sempre, diminui a autoestima, compromete o aprendizado, a subjetividade, a vida", acredita Stela Caputo.
SERVIÇO: “Educação nos terreiros: e como a escola se relaciona com o candomblé” (Editora FaperRJ-Pallas) - Stela Guedes Caputo (Educação - UERJ)