Qua, 04 de Setembro 2013 - 15:07
Por: Ana Maria Lopes ? Imprensa Apeoesp
Uma tese apresentada na Unesp revela como os livros didáticos de História adotados nos últimos 40 anos nas escolas brasileiras colaboraram na construção da atual identidade do País.
"Quem Somos nós?: Apropriações e representações sobre a(s) identidade(s) brasileira(s) em livros didáticos de História (1971-2011)" é a tese de doutorado que o professor e historiador Jean Carlos Moreno apresentou à Faculdade de Educação da Unesp de Assis. A pesquisa finalizada em julho inclui a análise de 66 livros didáticos destinados ao ensino de 5ª a 8ª séries e 15 documentos oficiais referentes ao período estudado, além de matérias de jornais da época.
A análise revela que imagens carregadas de preconceito contra índios e negros nos capítulos dedicados à colonização portuguesa eram comuns nos livros adotados na década de 70. Na década seguinte, houve uma inversão do discurso e muitos livros didáticos adotaram a visão marxista, destacando o ponto de vista dos vencidos, dos colonizados.
Para Jean Carlos Moreno, o pensamento de autores como Gilberto Freyre e Caio Prado Júnior impactaram o conteúdo dos livros didáticos de História no País. "A ideia de democracia racial começou a ser contestada depois que pensadores marxistas comprovaram a cisão entre o discurso de um País igualitário e as práticas de um País excludente", explica o pesquisador.
O doutorado do professor Jean Carlos retrata, por exemplo, como os livros de História produziram equívocos como a crença de que a História do Brasil começou em 1500. "O período que a historiografia indica hoje como determinante do nosso ser como nação e Estado é o século 19. É aí que se fazem as opções do que vai ser o País, de como ele vai se formar. Mas aqui,a dinastia portuguesa, que permaneceu no país, construiu a independência do Brasil como uma continuidade da colônia", explica o pesquisador.
Segundo Jean Carlos, os livros escolhidos para o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), implantado pelo MEC na década de 90, oferecem conteúdos mais equilibrados do que o material produzido nas décadas anteriores.
"Índios e negros passaram a ser apresentados não somente como personagens do passado ou como vítimas da violência e da opressão,mas como grupos ativos, com contribuições a oferecer para a sociedade", conclui o pesquisador, que acredita que a abordagem didática tornou-se ainda mais crítica e equilibrada no século XXI.