Sex, 19 de Julho 2013 - 13:53
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Cerca de 20% das escolas de Ensino Médio do País podem estar acima das expectativas, mas estão mal no ranking do Exame Nacional de Ensino Médio. Esta é uma das conclusões do professor e pesquisador Rodrigo Travitzki Teixeira de Oliveira, que acaba de concluir pelas Universidades de São Paulo e Barcelona o doutorado "Enem: limites e possibilidades do Exame Nacional do Ensino Médio enquanto indicador de qualidade escolar".
A pesquisa revela que fatores como nível socioeconomico dos alunos e escolaridade dos pais influenciam até 75% do desempenho escolar.
Professor de Biologia há mais de 15 anos, Rodrigo Travitzki questiona a divulgação do ranking, por considerar que boas propostas pedagógicas acabam sendo desconsideradas no exame, que é nivelador, e ainda favorece o marketing das escolas particulares que obtém boa avaliação e utilizam o resultado como estratégia de mercado.
"É um mecanismo que, se for útil, é mais útil para os mais ricos. Já que os resultados estão pouco relacionados ao mérito pedagógico da escola avaliada", analisa o professor, que pesquisa o tema desde 2009.
O trabalho de 322 páginas mostra que o chamado 'efeito escola' responde por apenas 21% da média da unidade. A pesquisa foi realizada a partir dos dados do Enem de 2009, divulgados em 2010, e do Censo Escolar do mesmo ano.
O Exame Nacional do Ensino Médio está entre os maiores do mundo, abrangendo seis milhões de estudantes por ano. "Há, contudo, críticas técnicas e filosóficas ao uso do Enem como indicador de qualidade escolar", pondera Travitzki na apresentação da sua tese.
O pesquisador identificou "diversas concepções de inteligência e de qualidade escolar, sendo poucas delas contempladas pelos indicadores baseados em testes padronizados". A pesquisa mostra que a supervalorização desses testes "cria o risco de colonização do cotidiano escolar pela razão instrumental, empobrecendo as relações intersubjetivas e as práticas pedagógicas.".
Em sua extensa pesquisa, Rodrigo Travitzki reconhece que, como a escola brasileira praticamente se universalizou no final do século XX, a busca pela qualidade tornou-se um dos seus maiores desafios.
"Mas, a Educação é um fenômeno muito complexo para ser medido com uma única régua. Qualquer indicador único de qualidade escolar é limitado. É uma informação superficial e distorcida", conclui o pesquisador, que revela-se mais preocupado não com o topo do ranking, mas com a parte mais baixa, que acaba sofrendo o efeito cruel de um resultado negativo, que não corresponde necessariamente à realidade.
SERVIÇO: A íntegra da tese "Enem: limites e possibilidades do Exame Nacional do Ensino Médio enquanto indicador de qualidade escolar", de Rodrigo Travitzki, está disponível na Biblioteca Digital da USP: