Ter, 06 de Março 2018 - 17:58
Por: Ana Maria Lopes
Professora de História na rede pública, Marcela Cristina de Oliveira Morente começou a pesquisar o movimento de mulheres ainda na graduação. Durante o mestrado na USP, dedicou-se a procurar as precursoras do 'feminismo millennial'.
A tese "Invadindo o Mundo Público: Movimentos de Mulheres (1945-1964)", defendida em 2015, rendeu um livro, lançado agora pela Editora Humanitas. Marcela Morente retrata as militantes feministas que atuaram pós-Estado Novo, principalmente na Federação de Mulheres do Estado de São Paulo.
Como a ascensão do movimento feminista ocorreu a partir da década de 70, o livro dá visibilidade a ativistas ainda negligenciadas pela historiografia. "As primeiras obras sobre opressão da mulher no decorrer da História foram publicadas na década de 40, nos Estados Unidos", escreve a historiadora ao analisar a exclusão de pessoas comuns dos livros.
Perseguidas por não se enquadrarem no padrão estabelecido naquelas décadas, que reservava às mulheres atuação apenas na esfera privada, como esposas, donas de casa e mães, essas militantes tornaram-se alvos de investigações policiais, o que rendeu capítulos na pesquisa de Marcela, dedicados às mulheres consideradas subversivas, sob o olhar da Polícia Política, e às associações femininas fichadas pelo Deops.
"Após o fim do governo autoritário de Vargas, em 1945, o Brasil vivenciou o retorno da democracia e as mulheres já se destacavam ocupando importante parcela do operariado paulista, com alguns direitos civis, como o voto", explica a pesquisadora.
Mesmo assim, os movimentos populares ainda eram considerados perigosos e, por isso, alvo de vigilância por parte da Polícia Política. "Entre as ações de resistência, os movimentos e associações de mulheres tiveram um papel destacado, pois além de representarem uma ameaça à ordem estabelecida, essas mulheres também significavam uma ruptura com o discurso oficial sobre o papel feminino", escreve Marcela Morente na apresentação do trabalho.
Para a pesquisadora, as associações femininas podem ser consideradas 'mães' do feminismo no Brasil, servindo como inspiração para muitos movimentos sociais posteriores.
“São mulheres que tiveram coragem para enfrentar uma sociedade extremamente conservadora, se afirmando como protagonistas da história", elogia a autora.
SERVIÇO: O livro "Invadindo o mundo público: Movimentos de mulheres (1945-1964)" é da Editora Humanitas.
A tese de mestrado de Marcela Cristina Oliveira de Morente está disponível na Biblioteca Digital da USP: www.teses.usp.br
Contatos com a autora, através do e-mail marcelausp@yahoo.com.br