Sex, 08 de Janeiro 2016 - 11:51
Por: Ana Maria Lopes
Temas recorrentes em todas as mídias, a sexualidade e questões relacionadas a gênero ainda não encontraram seu espaço no currículo escolar. Esta é uma das conclusões da dissertação de mestrado "Marcas da experiência na formação docente em gênero e diversidade sexual: um olhar sobre o curso Gênero e Diversidade na Escola", apresentada pelo professor Osmar Arruda Garcia à Faculdade de Educação da USP.
Atual presidente do Conselho Municipal de Educação de Rio Claro, o professor é membro do GSEXs - Grupo de pesquisa e extensão sobre sexualidades da Unesp - desde 2007 e do EDGES - grupo Estudos de Gênero, Educação e Cultura Sexual da Faculdade de Educação da USP - desde 2011.
O grupo de estudos examinado na pesquisa para o mestrado iniciada em 2012 é o de formação continuada oferecido pela Unesp de Rio Claro na cidade de Jaú. O curso é voltado para professores de Educação Básica das redes públicas. "Nas faculdades de Educação de todo o País, é difícil encontrar disciplinas obrigatórias que abordem as questões de gênero e sexualidade", explica o pesquisador.
Através da análise dos documentos dos trabalhos realizados durante o curso específico sobre o tema, o professor verificou que os educadores buscavam o grupo por motivações pessoais e profissionais, porque percebiam questões sobre diferenças de gênero e sexualidade aparecerem a todo momento em sala de aula.
O fato de a escola não conseguir lidar bem com essas questões, pode não só prejudicar como até mesmo interromper a formação das minorias, como gays e lésbicas.
As meninas também podem enfrentar consequências negativas dos estereótipos de gênero, como a falta de incentivo para a área de Exatas porque supostamente seriam menos aptas para carreiras fora da área de Humanas.
"Ainda faltam pesquisas que acompanhem a trajetória escolar de grupos específicos, mas já existem trabalhos que mostram que quando essas questões não são trabalhadas na escola, alunos e professores que estão sujeitos a discriminação não se sentem empoderados. Então, meninas que não aguentam a violência e vítimas da homofobia podem até deixar de estudar", aponta o pesquisador na dissertação de 163 páginas.
A pesquisa de Osmar Arruda Garcia revela ainda que a forma como os professores elaboram os seus próprios conceitos de gênero e diversidade sexual são contraditórios e marcados por pausas, avanços e retrocessos.
"Apesar das dificuldades encontradas pelos educadores para abordar o tema, o curso de Gênero e Diversidade na Escola impulsiona o debate e tem potencial para iniciar transformações das práticas escolares relacionadas a estas questões", conclui o professor.
SERVIÇO: A dissertação "Marcas da experiência na formação docente em gênero e diversidade sexual: um olhar sobre o curso Gênero e Diversidade na Escola", de Osmar Arruda Garcia, está publicada na íntegra na Biblioteca Digital da USP: www.teses.usp.br