Seg, 30 de Julho 2012 - 13:07
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Um mestrado na Universidade Federal de São Carlos revela a relação dos jovens infratores com o ambiente escolar. "O jovem autor de ato infracional e a educação escolar: Significados, desafios e caminhos para a permanência na escola" é o título da dissertação da pesquisadora Aline Fávaro Dias, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar, com bolsa da Fapesp.
Aline Fávaro conquistou o Prêmio Crefal de Melhor Tese sobre Educação de Jovens e Adultos, em 2011. O Prêmio é concedido pelo Centro de Cooperação Regional para a Educação de Adultos da América Latina e Caribe, uma organização apoiada pela Unesco.
Graduada em Psicologia, a pesquisadora realizou várias entrevistas e acompanhou a rotina escolar de seis adolescentes que cumpriam medidas socioeducativas em regime de liberdade assistida em São Carlos.
A pesquisa confirma que, apesar de o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) assegurar o direito amplo e irrestrito à educação para todos os jovens, incluindo os que estejam em conflito com a lei, as escolas públicas brasileiras têm dificuldade em incluir e integrar estes adolescentes.
Entre os fatores que dificultam a permanência dos jovens na escola estão a ausência de vínculo do conteúdo escolar com a realidade, o distanciamento dos adolescentes infratores com a rotina escolar e a própria dificuldade das instituições em lidar com os estudantes em situação de risco.
Em função principalmente da carência de informação, as escolas tendem a excluir e a rotular o aluno que cometeu atos infracionais. E, como em uma sequência óbvia, as dificuldades de aprendizagem e relacionamento entre eles é muito maior. Rotulados como perigosos, são responsabilizados por vandalismo e outros episódios negativos que acontecem na escola.
"É muito comum a transferência compulsória desses adolescentes, passando o problema de uma escola para a outra e não resolvendo, de fato, a situação deles”, explica a pesquisadora.
O mestrado de Aline Fávaro estuda apenas casos de jovens em cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto, benefício concedido somente a autores de atos infracionais contra o patrimônio, como roubo, furto e envolvimento com o tráfico de drogas. Não participaram da pesquisa estudantes em regime fechado, que praticaram crimes como homicídios ou estupros.
A pesquisadora conclui que é necessário investir na formação dos educadores para prepará-los para a diversidade do ambiente escolar. "Temos que superar a concepção bancária de educação", diz.
Uma frase de Paulo Freire prefacia a dissertação de 170 páginas e faz uma homenagem a estudantes e educadores: "Aos esfarrapados do mundo e aos que neles se descobrem e assim, descobrindo-se, com eles sofrem mas, sobretudo, com eles lutam.".
SERVIÇO: O mestrado "O jovem autor de ato infracional e a educação escolar: Significados, desafios e caminhos para a permanência na escola" está publicado na Biblioteca Virtual da Universidade Federal de São Carlos. Acesse www.ufscar.br