Qua, 22 de Junho 2016 - 17:29
Por: Ana Maria Lopes
Como subsídio aos debates relacionados ao Dia Internacional do Orgulho LGBT, celebrado em todos os países em 28 de junho, a APEOESP apresenta aqui a tese de doutorado que o pesquisador Marcelo Daniliauskas defendeu na Faculdade de Educação da USP, no último mês de março.
"Não se nasce militante, torna-se: processo de engajamento de jovens LGBT - Panorama histórico na cidade de São Paulo e cenário atual em Paris" é o tema da tese que investiga a origem do movimento LGBT jovem de São Paulo e Paris.
Doutor e Mestre em Sociologia da Educação pela USP, Daniliauskas é um pesquisador nas questões de gênero, sexualidade e políticas públicas de Educação. A sua dissertação de mestrado sobre esses temas foi destaque na seção Teses e Dissertações do site da APEOESP, em 2012.
A pesquisa para o doutorado, que se aprofunda nos contextos que levam jovens ao ativismo LGBT, foi desenvolvida durante períodos de estudos na Universidade de São Paulo e na Universidade de Paris I, Panthéon-Sorbonne.
Para o pesquisador, o acesso à informação e à instrução política, além dos constantes ataques aos direitos conquistados pela comunidade LGBT fortalecem uma militância cada vez mais jovem e consciente.
"Para a juventude LGBT parisiense, o estopim de um movimento próprio foi a discussão sobre a maioridade sexual na França, no início da década de 80. Já no Brasil, o que movimentou os ativistas foi a inclusão de uma cláusula contra a discriminação por orientação sexual na Constituição de 1988", diferencia Daniliauskas
Mas, a pesquisa indica que, apesar de contextos sociais e institucionais muito diferentes, as questões são as mesmas entre os jovens, já que há um pressuposto nas duas metrópoles de que todo mundo é compulsoriamente heterossexual, o que impõe grandes desafios aos que são considerados 'diferentes'.
"Por isso, a Internet teve importante papel e impacto mundial para a formação da identidade desses grupos, assim como para o reconhecimento da sexualidade", explica o pesquisador que considera que o crescimento da visibilidade do movimento LGBT e a formação de ONGs contribuíram para a reivindicação de direitos, a promoção de assistência social e a denúncia de casos de homofobia.
Igualdade e fraternidade
A tese de Marcelo Daniliauskas mostra como os conceitos de liberdade, igualdade e fraternidade, pilares da Revolução Francesa, fazem a diferença. Contando com o apoio de Prefeituras e o estímulo à doação pelo abatimento no Imposto de Renda, as ONGs que atendem a comunidade LGBT parisiense conseguem promover campanhas contra a homofobia e até manter albergues para acolher homossexuais expulsos de casa.
"Enquanto aqui no Brasil, há apenas o Disque 100 da Secretaria de Direitos Humanos para a denúncia de casos de homofobia, a comunidade LGBT parisiense tem vários canais, por telefone, correio e pela internet, através de chats e de e-mail”, diferencia Daniliauskas.
O pesquisador cita a marginalização das pautas LGBT na política brasileira como o principal problema de retrocessos, que vão desde a interrupção da produção de relatórios sobre homofobia pela Secretaria de Direitos Humanos até o veto à distribuição do material Escola sem Homofobia, que ganhou o apelido pejorativo de 'kit gay'.
"Para a nova geração, política é transformar o mundo e o ativismo LGBT é uma política para a mudança, para a transformação do dia-a-dia", defende o pesquisador, que conclui que a marginalização das pautas LGBT pelo governo brasileiro pode gerar uma nova noção de política no movimento, mais ativa e independente do poder institucional.
SERVIÇO: A tese de doutorado de Marcelo Daniliauskas está disponível para download na Plataforma Academia.edu. Veja ainda a resenha "Doutorando da USP defendeu mestrado sobre relações de gênero e diversidade sexual na Educação" no próprio site da APEOESP.