Ter, 12 de Janeiro 2016 - 11:53
Por: Ana Maria Lopes
A professora Ana Cláudia Florindo Fernandes analisou em sua dissertação de mestrado os impactos das manifestações musicais juvenis na Educação. "O rap e o letramento: a construção da identidade e a constituição das subjetividades dos jovens na periferia de São Paulo" é o tema da pesquisa desenvolvida entre os anos de 2011 e 2014 na Faculdade de Educação da USP..
"Pesquisei em que medida o rap, música característica do movimento hip-hop, é capaz de possibilitar o processo de letramento de jovens provenientes das classes menos favorecidas, que habitam na periferia de São Paulo, enriquecendo suas experiências linguísticas e subjetivas", explica Ana Cláudia.
A dissertação é resultado de uma iniciativa da ONG Casa do Zezinho, localizada na região do Capão Redondo, com jovens entre 13 e 15 anos matriculados em escolas públicas do entorno.
O discurso do rap foi utilizado em oficinas para debater as desigualdades sociais e raciais e também na construção da identidade dos jovens urbanos, aproximando a cultura de suas comunidades das intervenções propostas como situações de ensino.
Partindo de questões como a alfabetização e a questão racial no Brasil e a reivindicação de um ensino de qualidade para todos que, de fato, represente os alunos das classes sociais menos favorecidas, a pesquisadora avalia que apesar do preconceito enfrentado pelo rap, devido à linguagem informal e ao conteúdo, o ritmo tem um forte poder de crítica e emancipação.
Para Ana Cláudia Florindo, ao abordar questões como a violência e as drogas, o rap dá visibilidade à situação vulnerável na qual a população mais pobre e, principalmente, os negros, vivem, com reduzidas possibilidades de ascensão social.
"A violência presente em muitas letras de rap e hip-hop revela mais a intenção de favorecer uma reflexão que busque a compreensão de suas causas e efeitos, no sentido de combatê-la, do que um discurso que convoque o sujeito à sua reprodução”, acredita.
"Ao unir o caráter formador do rap com sua apreciação por parte dos jovens, em especial daqueles das zonas periféricas, descobre-se uma poderosa ferramenta de ensino. Muitas vezes, a cultura local do aluno e a cultura escolar que ele se vê obrigado a aprender são tão distantes que esta perde o sentido pra ele", explica a pesquisadora que compara os rappers aos griots, como eram chamados os narradores da ancestralidade africana.
A dissertação de 273 páginas revela que, no âmbito educacional, as possibilidades do rap e do hip-hop vão além de novas propostas de ensino-aprendizagem ou de construção de sentido para a vida escolar dos jovens menos favorecidos. "É uma música que leva para a sala de aula um contradiscurso, uma espécie de resistência ao modelo educacional vigente na escola, que tem atuado mais como estratégia de reprodução de um sistema de dominação, do que como espaço de formação democrática e crítica do aluno”, defende a pesquisadora.
Depois de apresentar a história do rap, da Jamaica aos Estados Unidos, e o surgimento do movimento hip hop no cenário musical brasileiro, a pesquisadora conclui que "a linguagem adotada pelo rap possibilita a reinterpretação das experiências vividas na comunidade, ao dar novos significados ao imaginário do adolescente, conferindo à palavra a força da experiência vivida, individual e coletivamente.".
SERVIÇO: A dissertação de mestrado "O rap e o letramento: a construção da identidade e a constituição das subjetividades dos jovens na periferia de São Paulo" está publicada na íntegra na Biblioteca Digital da USP: www.teses.usp.br.
Contatos com a autora, Ana Cláudia Florindo, através do e-mail anaflorindo@usp.br.