Ter, 27 de Fevereiro 2024 - 16:14
'Por quais estátuas os sinos do nosso luto dobram?' analisa narrativas sobre monumentos históricos
Por: Ana Maria Lopes
A professora e pesquisadora Thabata Dias Haynal enfrentou uma das polêmicas que 'incendiou' o mundo, em meio à pandemia, para elaborar o seu mestrado, apresentado em 2023 ao Programa de Pós Graduação em Filologia e Língua Portuguesa, da FFLCH da USP.
"Por quais estátuas os sinos do nosso luto dobram?: construindo o argumentário do dissenso em torno de monumentos racistas e colonialistas no Brasil" é o título do trabalho, que investiga os diferentes argumentos no debate sobre monumentos que, em sua maioria, celebram a memória de traficantes de escravos e colonialistas, como o Monumento às Bandeiras, a Estátua do Borba Gato e a rodovia e casas dos bandeirantes.
A autora analisou artigos e outras postagens de intelectuais após o assassinato de George Floyd nos Estados Unidos, um homem negro que foi sufocado por um policial branco, em 2020, provocando uma onda de protestos antirracistas ao redor do mundo.
Não é coincidência que o título da dissertação de Thabata Haynal faça referência ao célebre verso do poeta inglês John Donne: "A morte de um único homem me diminui, porque eu pertenço à Humanidade. Portanto, nunca procures saber por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti.".
O luto e a revolta provocados pela morte de George Floyd levaram manifestantes a derrubar a estátua de um traficante de escravizados em Bristol, na Inglaterra, e a incendiar a estátua do bandeirante Borba Gato, em São Paulo, entre outros protestos significativos em vários países.
Para abordar estes fatos, a dissertação de 291 páginas enfrenta temas como revisionismo histórico, reparação, estereótipos colonialistas e a imposição do esquecimento, entre outros temas que provocam polêmicas.
"Os monumentos históricos fazem parte da paisagem urbana e do cotidiano das cidades. Eles estão por toda parte e muitas vezes são vistos como um retrato fiel do passado. Entretanto, essas obras não são isentas de contradições e materializam visões de mundo particulares dos artistas e do contexto no qual estão inseridas", explica a pesquisadora na apresentação do estudo.
Thabata Haynal conectou os monumentos dos bandeirantes, que passaram a ser alvo de questionamento nos últimos anos, com as discussões sobre memória e argumentação.
"Existem inúmeros massacres e genocídios que são jogados para baixo do tapete da história pelo caráter periférico de suas populações. A mesma reflexão, mobilização e comoção que ocorreu como reação ao extermínio em massa do povo judeu deve estender-se para outros eventos, para outras populações, das quais os negros e os povos indígenas desse País são apenas mais um lamentável exemplo. Sem o devido luto e a devida reflexão, estamos fadados a repetir constantemente atrocidades, seja pela normalização do absurdo, por termos esquecido suas consequências, ou por não termos dado a devida atenção", conclui a pesquisadora.
"Por quais estátuas os sinos do nosso luto dobram?: construindo o argumentário do dissenso em torno de monumentos racistas e colonialistas no Brasil" está disponível na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP: https://www.teses.usp.br