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Seg, 18 de Julho 2016 - 17:24

Professora transforma experiência como temporária em Mestrado na Unicamp

Por: Ana Maria Lopes

Professora da rede estadual de São Paulo desde 2004, Gislaine dos Santos Pereira dedicou a sua pesquisa de mestrado na Unicamp a um tema especialmente problemático, não apenas para sua carreira, mas também para milhares de educadores paulistas.

Relações de trabalho flexíveis nas escolas estaduais paulistas: professores interinos, extranumerários, temporários (1930-2015)” trata de questões como as formas de contratação,; as condições e a organização do trabalho docente e até as representações que os professores constroem sobre seu trabalho.

"Na minha experiência como professora em diferentes escolas públicas estaduais e com diferentes contratos de trabalho, passei por perturbações que ocorriam no âmbito da minha biografia e das minhas relações imediatas com o trabalho docente", explica a pesquisadora que utilizou sua trajetória para aprofundar uma pesquisa sociólogica sobre questões que envolvem o trabalho dos professores desde a década de 30.

A tese de 276 páginas baseia-se na legislação do período elaborada pelos poderes Executivo e Legislativo, em depoimentos sobre as trajetórias de dez profissionais da rede estadual de ensino de São Paulo e na observação das condições de trabalho de uma escola de ensino fundamental e médio localizada em Campo Limpo Paulista.

O estudo realizado conclui que o trabalho docente tem sido, historicamente precário e que o Estado tem contribuído significativamente com este quadro, mediante instrumentos legais para a institucionalização da precariedade”, explica Gislaine.

A pesquisadora destaca momentos que foram significativos em sua trajetória para a compreensão dos fatores envolvidos na condição de trabalho dos professores. “O meu segundo ano de trabalho foi marcado pela aproximação com o sindicato dos professores – APEOESP – fundamental na minha formação política e na compreensão de que as condições de trabalho que eu experimentava eram também vividas pela grande maioria dos professores públicos do estado de São Paulo”, relembra.

E foi ainda neste seu segundo ano de trabalho, que a professora Gislaine, então classificada como OFA (Ocupante de Função Atividade), enfrentou a ameaça de desemprego. “Em 2005, o governador Geraldo Alckmin enviou à Assembleia Legislativa um projeto de lei , que estabelecia que as contratações de professores seriam realizadas pelo prazo de seis meses (com uma prorrogação de igual período) e ao final de um ano os contratos seriam extintos e os professores temporários, demitidos“, conta a pesquisadora.

Mas, a ameaça de desemprego levou os professores a se mobilizarem para defender o seu trabalho, ainda que temporário e, como resultado desta ação coletiva, o projeto de lei foi arquivado, embora os princípios tenham sido retomados posteriormente por outra lei“, escreve a professora.

O mestrado concluído em 2015 na Faculdade de Educação da Unicamp analisa um cenário de precariedade. Além da incerteza do desemprego, os temporários enfrentam a desagregação dos direitos trabalhistas e dos coletivos de professores (a cada final de ano letivo), são obrigados a submeter-se anualmente à distribuição de aulas classificados pelo desempenho no processo de avaliação e pelo tempo de trabalho no Magistério, em um processo tenso, que envolve a disputa pelo emprego em uma ou várias escolas, em disciplinas de seu campo (ou próximo) de conhecimento.

Os professores entrevistados durante a pesquisa mencionaram o fato de que o temporário ainda é considerado na escola como um 'professor de segunda classe'. Mas, na conclusão do trabalho, a pesquisadora destaca que, apesar de todos os transtornos, os professores que participaram da pesquisa demonstraram o sentimento de que o trabalho que realizam é extremanete relevante e, por isso, não abandonam o ofício docente.

Eles permanecem como educadores e atribuem diferentes sentidos ao seu trabalho, que vai da "vocação" à noção de "trabalho" como portador de um projeto de transformação de gerações”, explica a professora Gislaine dos Santos Pereira.

SERVIÇO: “Relações de trabalho flexíveis nas escolas estaduais paulistas: professores interinos, extranumerários, temporários (1930-2015)” está disponível para download na Biblioteca Digital da Unicamp:

http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000961588.

Contatos com a autora, através do e-mail: gis.pereira@uol.com.br

 
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