Sex, 01 de Março 2024 - 15:39
Tese de doutorado chega às livrarias com análise sobre educomunicação e escola pública em países colonizados
Por: Ana Maria Lopes
A educomunicadora Paola Prandini acaba de lançar "Conexão Atlândica - Branquitude, Colonialidades e Educomunicação na África do Sul, no Brasil e em Moçambique", resultado da sua tese de doutorado defendida em 2022 na Escola de Comunicações e Artes da USP. A tese, que já havia recebido menção honrosa no Prêmio Capes 2023, recebeu também o Prêmio Tese Destaque da USP 2024.
Focada na Educação Pública e na formação de professores, Paola falou sobre suas pesquisas em uma das edições do Programa EducAção na TV da APEOESP. No doutorado duplamente premiado, ela ouviu educadoras e educadores das cidades de São Paulo, Joanesburgo e Maputo, para estudar o impacto da branquitude e das colonialidades nas dinâmicas sociais, no processo de ensino-aprendizagem e nos currículos das escolas públicas do ensino básico.
Além de analisar questões como democracia racial e meritocracia, a tese de 311 páginas avalia a aplicação de recursos da educomunicação como recurso favorável à equidade étnico-racial nesses territórios.
O trabalho é intercalado por grafites fotografados nas três capitais, onde a autora também morou durante a pesquisa, como pesquisadora visitante na University of the Witwatrsrand, em Joanesburgo, e na Universidade de Eduardo Mondlane, em Maputo.
No caso do Brasil, a pesquisadora destaca que o fato de ser um País originariamente indígena e com a maior população negra fora do continente africano deveria tornar inaceitáveis processos educativos que não incorporem essas representatividades.
O estudo é resultado de uma conexão que a autora qualificou como 'atlândica'. "Uma conexão impulsionada pelo meu mover em direção a quem, do outro lado do Oceano Atlântico, também se banha em suas águas e numa projeção mais além, também me conectar com o balanço das ondas do Índico e com quem nele se vê reconhecido/a", explica poeticamente a autora, que também pauta os capítulos da sua pesquisa pelas obras de escritores e poetas dos três países.
Paola Prandini defende a potencialidade dos recursos cinematográficos no processo de ensino/aprendizagem, através da análise de seis filmes; entre eles, os brasileiros "Preto no Branco", de 2017, e "M-8: quando a morte socorre a vida", de 2020.
São narrativas cinematográficas que apresentam recortes de experiências de vida em países atravessados pela mentalidade colonial.
O doutorado, cujo projeto começou em 2018, transcorreu em meio à pandemia e ao isolamento, por isso a autora dedica um capítulo para a pesquisa em tempos de pandemia de covid-19 e também tem uma fonte não muito frequente entre os trabalhos acadêmicos, que é uma playlist no Spotify.
"O agir educomunicativo é potencializador de conquistas para o estabelecimento de equidades", conclui Paola Prandini.
"Conexão Atlândica: branquitude, decolonialitude e educomunicação em discursos de docentes de Joanesburgo, de Maputo e de São Paulo", tese que deu origem ao livro lançado pela Editora Letramento, está na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP.